Gravidez
murruchiSíntesis6 de Agosto de 2014
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Sexualidade e gravidez na adolescência - Um estudo de caso
Armanda Eulália Lopes Lemos Maria Engrácia Leandro
O estudo do fenómeno da sexualidade e gravidez na adolescência tem inerente algumas dificuldades que se prendem com a sua abordagem no terreno. Como sabemos, ainda hoje se verifica um certo receio e desconfiança em falar sobre sexualidade.
A Adolescência é uma fase da vida humana marcada por profundas transformações fisiológicas, psicológicas, intelectuais e sociais, vivenciadas num determinado contexto cultural.
Durante este período, assiste-se a um processo de transformação corporal, psicológica e social de características peculiares. Deste modo, mais do que uma fase, a adolescência é, assim, um processo dinâmico da passagem entre a infância e a idade adulta.
Os dados mais recentes sobre sexualidade dos adolescentes sugerem-nos diversas linhas de reflexão. Porém, atendendo às mais variadas transformações sociais ocorridas nos últimos tempos, pode definir-se a sexualidade como sendo um “conjunto de atitudes e de comportamentos sexuais, definidos num determinado espaço, fruto da cultura normativa de cada grupo social” .
É no decorrer desta fase que as transformações do corpo são visíveis, começam-se a experimentar estranhas sensações, a vivenciar os primeiros namoros, bem como as novas relações sociais que, de forma directa ou indirecta, irão afectar a vida social do adolescente. Por vezes, este desenvolvimento não é uniforme, isto porque, o adolescente face a determinadas situações sociais na sua vida tem de assumir certos comportamentos quando, muitas vezes, não está preparado para tal.
Tenha-se em devida conta que, segundo a O.M.S., a adolescência é um período que se estende entre os 10 e os 19 anos. Tal definição vai de encontro a um fenómeno social associado ao alargamento das idades da vida e aos acontecimentos que se vão reproduzindo durante este período de tempo: alargamento da escolaridade, entrada mais tardia na vida activa, maior afastamento diário da família, uma vez que pai e mãe tendem, cada vez mais, a exercer uma actividade profissional, a passar mais tempo fora de casa, ou seja, impõem-se novos hábitos e estilos de vida.
Nas sociedades ocidentais, o percurso para a autonomia é, contudo, longo. Este facto, tem certamente a ver com as recentes contrariedades com vista à conquista de um estatuto social, profissional e familiar que dê ao indivíduo uma autonomia real. Nas últimas décadas, o que, na grande maioria das vezes se observa, é um prolongamento da adolescência por falta de meios de subsistência que permita ao indivíduo a sua independência.
Sabendo que a adolescência é caracterizada por importantes modificações quer ao nível corporal, quer ao nível das relações sociais, importa compreendermos a noção de socialização presente em todo o processo evolutivo. Assim, segundo Piaton, a noção de socialização comporta “a ideia de uma génese contínua, regulada, inscrita num continuum psicossocial em que intervêm a família, a escola, os mass-media e o meio ambiente, contribuindo cada um destes meios para o processo de adequação recíproca pessoa/sociedade” .
A família e a educação sexual
Embora se possa falar em transformações dos padrões normativos que moldam a nossa sociedade, para muitas famílias, as questões sobre sexualidade são, por vezes, interpretadas à luz dos valores tradicionais. Daí que muitos jovens, perante esta questão, tenham sérias dificuldades em falar abertamente com os pais sobre os seus problemas no âmbito da sexualidade. Tais comportamentos prendem-se essencialmente com uma questão crucial que tem que ver com a educação sexual dos próprios pais.
O envolvimento familiar nas questões de educação sexual dos seus filhos é extremamente importante, pois, permite não só aos filhos adolescentes conhecer, a seu tempo, e de acordo com a maturidade que apresentam, todos os aspectos (físicos, psicológicos, sociais, intelectuais, …) relacionados com os mesmos, como aos pais que, conhecendo mais de perto a evolução e o crescimento do seu filho e estando presentes nos momentos difíceis dos mesmos, têm uma maior liberdade para abordar certas questões relacionadas com a educação sexual.
O papel dos pais, relativamente à educação sexual dos seus filhos, é fundamental. Isto porque, para que se prossiga ou se concretize o objectivo final na educação sexual dos seus filhos - prevenção das gravidezes indesejadas e doenças sexualmente transmissíveis - é importante que haja um maior espaço de comunicação e abertura face ao tema entre ambas as partes.
Segundo Vilar, “mesmo nas famílias em que existe uma comunicação entre progenitores e adolescentes continuarão a ter essencialmente um carácter informal e que, muitos progenitores e adolescentes continuarão a ter dificuldades reais na comunicação sobre este tipo de questões. Dificuldades estas que são inerentes às características da adolescência e, noutro caso, às incapacidades ou insuficiências dos progenitores neste campo específico” (sic).
As noções de educação sexual, devendo encontrar na família o primeiro espaço da sua expressão acaba, frequentemente, por ser descuidada, na medida em que, ainda está envolta em muitos preconceitos e até alguns tabus. Tenha-se, por exemplo, em conta, que muitos dos pais, tendo nascido noutra época, não adquiriram a informação necessária para encarar e falar sobre estas questões com naturalidade.
Hoje, a educação sexual tornou-se numa questão de sociedade na medida em que interroga e compromete a família, a escola, os políticos, os cientistas mais directamente relacionados com a problemática da saúde ou com questões sociais em sentido mais amplo.
Quando reflectimos sobre este assunto, damo-nos conta que a sociedade vai tomando, cada vez mais, consciência da necessidade de inverter este estado de coisas donde decorrem vários problemas.
Um dos mais prementes relaciona-se com as práticas sexuais na adolescência, de onde normalmente, decorrem vários riscos, sobretudo, quando não se tomam medidas preventivas, ou seja, o recurso a uma sexualidade desprotegida. Alguns desses riscos são visíveis na disseminação das doenças sexualmente transmitidas. Outros dão azo ao fenómeno social da gravidez na adolescência.
As gravidezes indesejadas são, ainda hoje, um problema que atinge um número bastante elevado de jovens. Apesar dos números estarem a diminuir, a percentagem de adolescentes grávidas com menos de 16 anos é ainda significativo. Nos grupos etários dos 15-19 anos era de 39,6 por mil habitantes para o ano de 1999 e de 21,3 por mil habitantes em 1997 .
Estando as famílias cada vez mais ausentes como consequência das suas actividades profissionais, a escola, acaba por ser o espaço onde os adolescentes se encontram nas suas relações sociais e experimentam as vivências sexuais precoces.
A escola e a educação sexual
Sabendo que, o início da ideia da educação sexual na escola surgia como sendo uma reacção ao conservadorismo da época, ao silêncio sentido face à abordagem da sexualidade, esta, ainda hoje, conhece algumas dificuldades que tendem a desvalorizar a necessidade para a implementação da mesma.
A necessidade para a implementação das aulas de educação sexual nas escolas é, ainda hoje, motivo de dúvidas e receios, pois, há quem pense que a “aquisição de conhecimentos sobre sexualidade possa aumentar as suas tentativas de experimentação de comportamentos sexuais; que nas suas acções de Educação Sexual se inclua o ensino de práticas sexuais; que o mais importante em Educação Sexual deve ser a prevenção das infecções de transmissão sexual e da gravidez não planeada, sobretudo em adolescentes” .
Mentalidades desta natureza podem constituir um travão ao desenvolvimento da educação sexual nas escolas. Mas, nem por isso, a escola pode deixar de se preocupar com esta questão.
Segundo Vilar, “a educação profissionalizada, foi assim frequentemente sendo definida pela negativa e, em alternativa ao papel que outros agentes da socialização não podiam ou não queriam realizar” .
A escola e a família devem agir em conformidade no que respeita à educação dos seus em matéria da sexualidade. Devem ambos, pautar-se por um mesmo objectivo fundamental: promover uma maturação responsável no jovem e preveni-lo dos riscos das vivências sexuais precoces.
Ainda segundo o mesmo autor, “ é sobretudo no domínio dos conhecimentos que a escola poderá cumprir um papel importante, quando comparada aos outros agentes de socialização que referimos.
Ao contrário dos media, a escola tende a promover uma aprendizagem de forma articulada e com um sentido lógico. Por outro lado, a escola, por ser um espaço de ensino formal e de saberes interdisciplinares, é capaz de transmitir conhecimentos técnicos e científicos que, muitas vezes, as famílias não podem promover, (pela sua natureza informal e pela deficiente preparação e dificuldades de comunicação de muitos progenitores) nem os mass media são capazes de transmitir de forma regular” .
A escola juntamente com a família poderá, perfeitamente unir-se com vista a um único objectivo: o de acompanhar o adolescente para uma vivência mais informada, mais autónoma e, sobretudo, mais responsável da sexualidade. Isto porque, tal como já tinha sido referido, “a família é a instância social com o papel mais determinante no desenvolvimento e na educação da sexualidade
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