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La resistencia entendida como resistencia

Juan ManuelMonografía11 de Marzo de 2023

5.488 Palabras (22 Páginas)80 Visitas

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UNIVERSIDADE FEDERAL  FLUMINENSE 


Disciplina: Metodologia II: Economia e Sociedade
Pobreza e Campesinato Na História Moderna (séculos XVIII/XIX) 


Professora: Márcia Menendes Motta


Aluno: Juan Manuel Sarasa 


1º Semestre de 2014

A resistência entendida como resistência

Por Juan Manuel Sarasa

Na década de sessenta muitos dos postulados de Gilberto Freyre foram recuperados por um grupo de historiadores tanto brasileiros quanto estrangeiros[1]. As descobertas de Freyre sobre as raízes africanas da cultura brasileira eram demasiado interessantes para ser ignorados devido à sua aparente falta de rigorosidade no método.[2] Mas a valorização das contribuições dos africanos e afro-brasileiros veio atada num pacote que incluía asseverações polémicas que deixavam flancos muitos claros para ser atacados. Estou me referindo à premissa que afirmava que o caráter patriarcal do escravismo brasileiro fazia que este fosse relativamente benigno. A outra coisa que era indignante de ouvir por muitos científicos sociais brasileiros era a ideia (que se desprendia da primeira) de que no Brasil contemporâneo estava vigente uma democracia racial. Como um “melting pot”, mas muito melhor que o americano, porque estavam todos de verdade miscigenados.[3] 

Passaram-se os anos, e uma década depois o refluxo historiográfico deu espaço suficiente para que se montasse o debate. Um grupo de sociólogos e historiadores nucleados principal (mas não exclusivamente) em torno à Universidade de São Paulo pôs em evidência a debilidade dos argumentos dos reivindicadores de Freyre. Os primeiros, questionando abertamente essa ideia de sociedade pós-racial; e os últimos, nos relembrando da violência da escravidão brasileira, em particular nas plantations e engenhos.[4] Saídos das filas do marxismo, fizeram seu grande aporte ao formular o modo de produção escravista colonial e inaugurando um desafio em duas frentes; já que a mera existência deste conceito diferencial também ia contra a ortodoxia do Partido que continuava adaptando categorias anacrônicas (e europeias) como o modo de produção feudal. [5]

Com o passar das intervenções, muitas posições extremaram as lógicas dos argumentos. Por um lado, chegaram a apresentar o escravo quase como “integrado à família patriarcal”, como no caso de Queirós Mattoso; no outro Fernando Henrique Cardoso estendia a coisificação do escravo ao nível da consciência individual.[6] 

A queda do muro de Berlim levou consigo não somente as ideias sobre as quais se apoiava o chamado socialismo realmente existente, mas derrubou também muitos outros paradigmas do universo marxiano. Não surpreende então que nos anos noventa a postura da “escola paulistana” se viesse reduzida ao seu núcleo duro. A partir de esse momento a discussão se reduzia ao nível do grau: adaptação à escravidão?, escravidão consensual?  ou quiçá amo e escravos como coprodutores da riqueza, tal como se adivinhava no subtítulo do livro de Genovese dos anos 70: Roll, Jordan, roll. The world the slave made.

Mas não somente na Historia da Escravidão se véu espalhada esta lógica. Muitos sociólogos e muitos outros que historiavam coletivos oprimidos faziam uso desta ferramenta teórica muito útil para casos afins. O submetimento que sofreram os povos não europeus na longa expansão do homem branco permitiu, por exemplo, um marco propicio para sua utilização por parte de estudiosos das Américas. [7]

Enquanto isso, autores politicamente comprometidos com a militância política de esquerdas como Jacob Gorender criticaram com veemência aqueles postulados. Para ele era indignante ter que escutar que, exceto os quilombolas, os escravos “aceitavam” a escravidão:

“Adaptação não é sinónimo de passividade. A negação da opressão veio dos quilombos, que o fizeram com audácia expressa, mas também veio daqueles que não tiveram alternativa senão a de se adaptar ... [...]  Aqui a negação alcançava manifestações contundentes de maneira episódica, mas se fez sentir no cotidiano, sob formas e aspetos variadíssimos. [...] A resistência não constituía um momento distinto acoplado a outro momento distinto subsequente, conforme o propõe o binômio resistência e acomodação. A resistência fazia parte intrínseca da adaptação”[8]

        Sempre é difícil para um revolucionário ter que explicar a impassibilidade dos oprimidos. Gorender resolve isso vendo “resistência” não somente nas revoltas, mais também em qualquer ato que fosse contra do interesse do amo, o que podia ir desde a fugida, até sabotagem, reticência, negligência, relaxamento, petições ao amo, etc.

        Frente aos que em todo queriam ver uma resistência, atualmente existem outros pesquisadores como Hal Langfur, estudioso do relacionamento entre os índios dos sertões e o governo colonial de Minas Gerais, que observam na aberta resistência dos aborígenes contra os contrabandistas e aventureiros vindos através da serra, uma colaboração com o homem branco. Neste caso, com o homem branco no governo da capitania:

“One of the most important examples [of cooperation between Indians and the colonial state] was the ongoing Portuguese reliance on natives as kind of wilderness guard. Unquestionably, this relationship was an odd sort of cooperation, one that depended on natives to oppose incursions into their territory to serve the interest of the state. Such conduct could as easily be defined as resistance...”  [9]

        Contudo, e apesar de que os sucessivos governadores nunca deixaram de reprimir os nativos (como Langfur mesmo o reconhece), o dito autor vê algo mais que uma confluência de interesses. [10]

        Resistências vistas como cooperação. Acomodações vistas como resistências. Todas as interpretações são válidas se as fontes não foram forçadas para elas dizerem o que não dizem.

        No meu caso de estudo em particular, as interações entre nativos-americanos e europeus tem grande importância. O que me desorienta, a esta altura, é que a resistência destes indígenas que aparecem nas minhas pesquisas parece ser..., bom, resistência. O pode se interpretar o aqui escrito de alguma outra forma?:

“Y como ni por dádivas ni halagos los indios no se querían asegurar, determinó Sarmiento dejarlos, y subir a lo alto de la barranca por diferente parte de donde estaban los indios, por no escandalizarlos, sólo para explorar la loma, y llanos y canales. Y puesta la gente en orden, subió la barranca por una ladera arriba, y antes que llegasen a la cumbre de la barranca, vinieron cuatro flecheros, y sin darles ocasión alguna y habiendo recibido los dones, comenzaron a expender muchos flechazos en el general, que iba delante, y en el piloto mayor y [el] alférez que iban a su lado, y le dieron a cada uno cinco o seis flechazos fuertemente dados y con gran presteza, y al general dieron uno en la frente entre los ojos que fue soslayo, y le hizo poca sangre, […] y al alférez le [tras]pasaron la ropa y capelete y le metieron otros en la rodela, y al piloto le dieron por el cuerpo y brazos y rodela, y fue herido un soldado en el ojo. Se llamaba el soldado Pedro de Aranda, el cual como fue herido, dijo: `muerto me han´.” [11]

        No ano de 1579, em Ciudad de los Reyes –atual Lima–, começou-se seriamente a planejar a toma de posse efetiva e fortificação do Estreito de Magalhães para fechar o aceso das potencias estrangeiras ao Pacífico. Bem preparada, contando com abundantíssimos recursos,[12] e dirigida por pessoas muito competentes, contudo a colonização se converteu numa sucessão de desastres e fracassou estrepitosamente. No dia 27 de setembro de 1581 zarparam da Espanha em comboio com 23 barcos com 3000 pessoas a bordo, 750 das quais deviam ficar no Estreito como soldados, marinheiros e colonos.[13] Dizer que a viagem foi um pesadelo seria minimizar o sofrido por esta armada. Tardaram quase dois anos e meio para chegar.[14] Desembarcaram com vida 338 almas.[15] Um só deles sobreviveu para dar testemunho em 1620. [16]

        Não foram os choques com os míticos gigantes patagões (também conhecidos como tehuelches, autodenominados aonikénk nessa latitude) a principal causa do fracasso da colonização do Estreito de Magalhaes. Entretanto, a ferocidade com a qual estas pessoas defenderam os seus territórios de caça e recolecção é um fator importante a considerar ao momento de tentar qualquer explicação.

        Acontece que os tehuelches atiravam a matar quando eram surpreendidos pelas vanguardas de soldados espanhóis, e também quando decidiam cair sobre os povoados dos europeus ou quando emboscavam-lhes em campo aberto. Estas ações parecem ser um fim em si mesmo. As fontes não mostram que quisessem negociar nada. Estes índios patagões não embatiam para mudar uma relação de força, nem conseguir uma inversão de posições, nem atacavam preventivamente à espera dum movimento inimigo. Simplesmente dá a sensação de que queriam acabar com a presença espanhola na área do Estreito de Magalhães. Ou que pôde se entender do último fragmento citado acima.

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