Cataratas Do Iguacu
rejaneruiz9 de Junio de 2014
2.601 Palabras (11 Páginas)310 Visitas
Levantamento de fontes históricas sobre o Parque Nacional do Iguaçu e Cataratas do Iguaçu (Brasil e Argentina, 1860-1914)
Rejane Anahi Camilo Ruiz
Cezar Karpinski
RESUMO: A proposta desta comunicação é apresentar alguns resultados do Projeto de Iniciação Científica Levantamento de fontes históricas sobre o Parque Nacional e Cataratas do Iguaçu (Brasil e Argentina, 1860-1914), desenvolvido na Universidade Federal da Integração Latino-americana (UNILA). Nesta pesquisa, buscamos desenvolver análises críticas sobre as percepções dos viajantes brasileiros que, em fins do Século XIX e início do XX, visitaram a região oeste do Paraná, especialmente a colônia militar da Foz do Iguaçu. Para esta comunicação discutiremos um relato de viagem e algumas imagens que representaram/divulgaram as Cataratas do Iguaçu no período proposto.
PALAVRAS-CHAVE: Parque Nacional do Iguaçu, Cataratas do Iguaçu, História
Considerações iniciais
Nesta comunicação, apresentaremos alguns resultados de uma pesquisa de iniciação científica em andamento na Universidade Federal da Integração Latino-americana – UNILA. O projeto intitulado Levantamento de fontes históricas sobre o Parque Nacional e Cataratas do Iguaçu (Brasil e Argentina, 1860-1914) é coordenado e orientado pelo Prof. Dr. Cezar Karpinski, do curso de História – América Latina, e conta com três bolsistas, cada um dos quais exercendo um plano de trabalho distinto conforme os objetivos das abordagens interdisciplinares propostas pelo projeto.
Neste sentido, a pesquisa conta com bolsistas dos cursos de Relações Internacionais, Ciência Política e Sociologia e História – América Latina. No que concerne às discussões voltadas especificamente ao campo disciplinar da História, visamos, principalmente, os seguintes objetivos: levantamento e análise dos relatos de viagens à fronteira no lado brasileiro; pesquisa em arquivos da cidade de Foz do Iguaçu se esses relatos aparecem na construção histórica da cidade; perceber como as narrativas de viagem descrevem a paisagem e como constroem significados ao território; e discutir a emergência de conflitos entre Brasil e Argentina pelo domínio da paisagem, nos discursos dos viajantes brasileiros.
Para este momento, separamos análises sobre o relato de viagem de Domingos Virgilio Nascimento, já discutidas por Karpinski (2011, p.169-197), e algumas imagens do período, especialmente de cartões postais que iniciaram a divulgação imagética das cataratas do Iguaçu. Tanto o relato de viagem quanto as imagens selecionadas deslindam um processo de construção da paisagem em torno de um desejo de ocupar, povoar e definir este território de fronteira entre Brasil e Argentina. Com isto, entendemos que a emergência desta documentação instaura um processo político pelo domínio da paisagem, como definido por Karpinski.
Entre narrativas e imagens: a definição de uma Paisagem de Fronteira
Mas eu preciso descortinar alguma cousa mais; até aqui contemplo essa maravilha a distancia de 1 kilometro, em terra firme, ainda que o solo estremeça em trepidações constantes como abalado de continuo por forte terremoto. Desço a collina e contorno os precipicios. Vou a borda do abysmo, quero sentir os effeitos dessa attracção irresistivel, e se possivel fosse... (NASCIMENTO, 1903 Apud KARPINSKI, 2011, p.194)
FIGURA 01. Postal Iguazu – Cataratas Del Iguazu (Garganta Del Diablo)
FONTE: Paulo Rigotti [s/data]
Na percepção de alguns cronistas do Século XIX e início do XX, o esplendor e a beleza das cataratas representava a mais “pura arte”, arte esta que deveria ser exposta ao mundo, para que o belo milagre da natureza pudesse ser compartilhado com aqueles que desconheciam esta paisagem. Em seus relatos, estes viajantes procuravam descrever as cataratas com o uso de uma narrativa que fosse capaz de transformar em palavras as sensações físicas, os sentimentos causados pelo contato tão próximo a este espetáculo imponente e quase delirante. Não bastava a descrição das particularidades desta paisagem, tais como o volume das águas, a altura dos saltos e a quantidade destes, era necessário descrever as sensações físicas, onde podemos interpretar tal descrição de sentimentos como a principal divulgação e convite às cataratas ao turismo de elite. (cf. KARPINSKI, 2011, p. 133-229)
Antes, cabe ressaltar que a análise pela qual se propõe entender os discursos incutidos nos relatos dos cronistas não se limita somente a estética, mas como estas narrativas estavam imbuídas de política. Sendo assim, emergia destas descrições do sublime e belo, deste apelo imagético-discursivo, a reflexão de ressentimentos relacionados às questões de limites com a Argentina pela delimitação das cataratas e do rio Iguaçu inerente à questão da ocupação territorial da Colônia Militar do Iguaçu que em tal período era ocupada em sua grande maioria por estrangeiros.
No primeiro semestre de 1903 publica-se a obra Pela Fronteira de Domingos Nascimento, onde busca descrever sua viagem pelo oeste paranaense. Foi um militar republicano, nascido no dia 31 de maio de 1862, na cidade de Guaraqueçaba, que na época pertencia ao município de Paranaguá. Aos 32 anos, ingressou na carreira política elegendo-se deputado por várias legislaturas. Dedicou-se ao jornalismo, fundando vários jornais na capital paranaense (“A Folha Nova”, “A Notícia”, “A Tarde” e “Correio do Sul”), dedicava se também à poesia e prosa. Morreu em agosto de 1915 deixando obras ligadas à literatura e à educação infantil paranaense. Em suas crônicas e textos Domingo Nascimento defendia o ideário republicano e buscava consolidar Curytiba como um centro de progresso cultural e modernidade. (cf. KARPINSKI, p.166)
Sendo premiada no dia 19 de dezembro de 1903, data em que se comemorava a emancipação política do Paraná, a obra Pela Fronteira era sem dúvida, rica e densa, já que buscava constituir a paisagem sertaneja da fronteira oeste, caracterizando a situação política, social e econômica da “Colônia Militar da foz do Iguassú”. O autor sublinhava assim, de um lado as paisagens naturais de riquezas sem fim, e de outro, colocava em discussão a questão do abandono e descaso na qual essa região se encontrava. (cf. KARPINSKI, p.167)
Nascimento descreve na apresentação de seu livro através de suas lembranças os rios Paraná e Iguaçu, as quedas de água e as aventuras para chegar ao que sublinhou como “Paraíso do Assombro”:
Hoje que me encontro de volta, sinto ainda um quê de vago e enervante, quando pelo meu espirito esvôa a serie ininterrupta de abysmos e alcantís que ousei transpor, para vencer esses longos caminhos que vão dar ao Paraiso do Assombro, com todas as suas tintas fortes de poentes rubros, com toda essa infernal orchestra de lençóes d’agua se precipitando estranhamente horrisonos. (NASCIMENTO, 1903 Apud KARPINSKI, 2011, p.171)
Seguindo a narrativa de Nascimento podemos perceber a construção discursiva em torno do “paraíso assombroso” e da “orquestra infernal horríssona” numa descrição que poderia até transparecer o temor do homem diante da grandeza do rio e suas quedas “abismos”. Neste sentido é singular a reconstituição do belo e do sublime pelo autor.
Nascimento constitui antes de sua narrativa sobre os saltos, o cenário social da Colônia Militar do Iguassú que, segundo ele, possuía uma política agrária desobediente à legislação vigente no princípio do século XX. Além disso, denunciou práticas que contradiziam os princípios republicanos e caracterizou a precariedade no aspecto econômico, político e social da fronteira oeste, denominada por ele como um dos símbolos da riqueza do Paraná. Para ele a “joia rara” paranaense não se encontrava mais tão intacta devido à ação exploratória estrangeira no que se tratava das questões das terras devolutas, emergindo assim um discurso permeado de conflitos e tensões, com o intuito de refletir a importância deste território aos paranaenses que ainda o tinham como oculto aos olhos. A construção da paisagem do oeste paranaense serviu como pano de fundo para essas questões políticas e a descrição que veremos das cataratas do Iguaçu estava inserida neste contexto de relações de poder entre os que defendiam o Paraná em detrimento da União nas questões de posse e domínio do espaço dos grandes saltos do Iguaçu. (cf. KARPINSKI, 2011, p.172).
Uma particularidade na narrativa de Nascimento é quando este relata a presença no lado brasileiro das cataratas do Iguaçu um morador espanhol de nome D. Jesus Val, ele e sua família passaram a habitar as margens do rio Iguaçu no final do Século XIX, onde trabalhava no serviço de exportação de madeiras para Buenos Aires. Este é citado por Nascimento como um grande defensor das belezas naturais do Brasil, já que a sua custa construiu um porto de “embalse”, uma larga e plana estrada que contornava a costa brasileira
...