Homosexualidad
tiarhe1216 de Noviembre de 2012
1.976 Palabras (8 Páginas)257 Visitas
O MUNDO DE SOFIA
Uma Aventura na Filosofia
Jostein Gaarder
Tradução de: Catarina Belo
EDITORIAL PRESENÇA
Quem não sabe prestar contas
De três milénios
Permanece nas trevas ignorante,
E vive o dia que passa
JOHANN WOLFGANG GOETHE
9
O JARDIM DO ÉDEN
“...algo teria de surgir a certa altura do nada...”
Sofia Amundsen regressava da escola. Percorrera com Jorunn o primeiro troço do caminho. Tinham conversado sobre robôs. Para Jorunn, o cérebro humano era um computador complexo. Sofia não estava de acordo. Um homem deveria ser algo mais do que uma máquina.
No supermercado, despediram-se. Sofia morava no extremo de um extenso bairro de vivendas e o caminho que tinha de percorrer para a escola era quase o dobro do de Jorunn. A sua casa parecia ficar no fim do mundo, porque atrás do jardim já não havia casas, apenas floresta.
Meteu para Kõveveien. No fim da rua, havia uma curva estreita, a que chamavam a
"Curva do Capitão", e onde quase só ao fim-de-semana se viam pessoas.
Era o começo de Maio.
Nalguns jardins, os narcisos
formavam coroas de flores sob
as árvores de fruto. As bétulas tinham uma fina penugem
verde.
Não era estranho que nessa
estação do ano tudo começasse
a crescer e a desenvolver-se?
Porque é que essa massa de
plantas verdes podia nascer
da terra inanimada logo que o
tempo ficava mais quente e os
últimos vestígios de neve tinham desaparecido?
Sofia espreitou para a
caixa do correio antes de
abrir o portão do jardim.
Geralmente havia muita publicidade e alguns envelopes
grandes para a sua mãe. Sofia
colocava sempre um monte
de cartas na mesa da cozinha,
indo depois para o quarto fazer os trabalhos de casa.
Para o seu pai chegavam
por vezes cartas do banco,
mas ele também não era um pai
comum. O pai de Sofia era
capitão num petroleiro e estava fora quase todo o ano.
Quando regressava a casa
por poucas semanas, deambulava de chinelos pela casa, e
cuidava de Sofia e da mãe de
uma forma enternecedora. No
entanto, quando estava em
viagem, podia parecer muito
distante.
10
Nesse dia havia apenas uma
pequena carta na grande caixa
do correio, e era para Sofia.
"Sofia Amundsen", estava
escrito no pequeno envelope.
"Klõverveien 3". Era tudo,
sem remetente. A carta nem
sequer tinha selo.
Imediatamente após ter fechado o portão, Sofia abriu
o envelope. Encontrou uma
pequena folha, que não era
maior do que o respectivo envelope. Na folha estava escrito: “quem és tu”?
Mais nada. Não havia assinatura, apenas estas três
palavras escritas à mão, seguidas de um grande ponto de
interrogação.
Observou uma vez mais o
envelope. Sim, a carta era
de facto para si, mas quem é
que a tinha posto na caixa do
correio?
Sofia apressou-se a abrir
a porta da casa vermelha.
Como de costume, o gato
Sherekan saiu furtivamente
dos arbustos, saltou para o
patamar e enfiou-se em casa,
antes de Sofia fechar a porta.
- Bichano, bichano, bichano!
Se, por algum motivo, a
mãe de Sofia estava zangada,
dizia que a sua casa parecia
uma feira de animais. Uma
feira de animais era uma colecção de animais diversos e,
na realidade, Sofia estava
bastante satisfeita com a sua
colecção. No início, tinha
recebido um aquário com os
peixes dourados Caracolinho
Dourado, Capuchinho Vermelho e Diabrete. Mais tarde,
foi a vez dos periquitos Tom
e Jerry, a tartaruga Govinda e finalmente o gato amarelo Sherekan. Todos aqueles
animais eram uma espécie de
compensação pelo facto de a
sua mãe chegar tarde a casa e
de o seu pai estar quase sempre a viajar.
Sofia atirou a mala da escola para um canto e pôs um
prato com comida de gato para
Sherekan. Depois, foi sentar-se num banco da cozinha,
com a misteriosa carta na
mão.
Quem és tu?
Se ela soubesse! Era obviamente Sofia Amundsen,
mas quem era Sofia Amundsen? Ainda não tinha descoberto totalmente.
E se tivesse outro nome?
Anne Knutsen, por exemplo.
Seria então uma outra pessoa?
Subitamente, lembrou-se de
que o seu pai inicialmente
lhe gostaria de ter dado o
nome Synnõve. Sofia procurava imaginar como seria se
cumprimentasse alguém e se se
apresentasse como Synnõve
Amundsen - mas não, não
conseguia. Imaginava sempre
uma outra pessoa.
11
Saltou do banco e, com a
estranha carta na mão, dirigiu-se para o quarto de banho. Colocou-se em frente do
espelho, e olhou-se fixamente
nos olhos.
- Eu sou Sofia Amundsen - disse.
A rapariga do espelho nem
sequer respondeu com uma careta. Aquilo que Sofia fizesse, ela fá-lo-ia exactamente da mesma forma. Sofia
procurava adiantar-se em relação ao espelho com um movimento muito rápido, mas a outra era igualmente rápida.
- Quem és tu? - perguntou Sofia.
De novo não recebeu nenhuma resposta, mas por um breve
momento não soube se tinha
sido ela ou o seu reflexo no
espelho a fazer a pergunta.
Sofia tocou com o indicador no nariz reflectido no
espelho e disse:
- Tu és eu.
Não recebendo resposta alguma, inverteu a frase:
- Eu sou tu.
Sofia Amundsen nunca estivera particularmente satisfeita com a sua figura. Ouvia frequentemente dizer que
tinha uns belos olhos de
amêndoa, mas as pessoas diziam-no, sem dúvida, porque o
seu nariz era demasiado pequeno e a boca um pouco grande. Além disso, as orelhas
estavam demasiado junto aos
olhos. Mas o mais grave eram
os cabelos lisos, difíceis de
tratar. Por vezes, o pai
passava a mão pelos seus cabelos e chamava-lhe "a rapariga dos cabelos de linho",
referindo-se a uma composição
de Claude Debussy. Para
ele era fácil dizê-lo, visto
que não estava condenado para
toda vida a ter cabelos compridos e negros, completamente lisos. Nos cabelos de
Sofia nem o gel nem os
sprays faziam efeito.
Por vezes, achava-se tão
estranha que se perguntava se
não seria disforme de nascença. A sua mãe tinha-lhe falado num parto difícil. Mas
seria possível o nascimento
determinar, de facto, a figura de cada um?
Não era estranho que ela
não soubesse quem era? Não
era absurdo não poder decidir
nada quanto à sua figura?
Tinha simplesmente nascido
consigo. Podia escolher os
seus amigos, mas não se escolhera a si mesma. Nunca tinha decidido que queria ser
um ser humano.
O que era um ser humano?
Sofia observou de novo a
rapariga do espelho.
- Vou mas é fazer os meus
trabalhos de biologia - disse, como que desculpando-se.
Em seguida, estava à entrada
da casa.
- Não, prefiro ir para o
jardim - pensou.
- Bichano, bichano, bichano!
Sofia enxotou o gato para
a escada e fechou a porta.
12
Quando ia pelo caminho de
saibro com a misteriosa carta
na mão, teve uma estranha
sensação. Imaginava-se como
um boneco que, por artes mágicas, se tivesse tornado vivo.
Não era estranho que estivesse no mundo e pudesse tomar parte naquela aventura?
Sherekan saltou elegantemente pelo caminho de saibro
e desapareceu por entre os
espessos arbustos. Um gato
vivo, desde a ponta dos bigodes brancos até à cauda ondulante na extremidade do corpo. Também ele estava no
jardim, mas certamente não
estava tão consciente disso
como Sofia.
Depois de ter pensado um
pouco
...