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Homosexualidad

tiarhe1216 de Noviembre de 2012

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O MUNDO DE SOFIA

Uma Aventura na Filosofia

Jostein Gaarder

Tradução de: Catarina Belo

EDITORIAL PRESENÇA

Quem não sabe prestar contas

De três milénios

Permanece nas trevas ignorante,

E vive o dia que passa

JOHANN WOLFGANG GOETHE

9

O JARDIM DO ÉDEN

“...algo teria de surgir a certa altura do nada...”

Sofia Amundsen regressava da escola. Percorrera com Jorunn o primeiro troço do caminho. Tinham conversado sobre robôs. Para Jorunn, o cérebro humano era um computador complexo. Sofia não estava de acordo. Um homem deveria ser algo mais do que uma máquina.

No supermercado, despediram-se. Sofia morava no extremo de um extenso bairro de vivendas e o caminho que tinha de percorrer para a escola era quase o dobro do de Jorunn. A sua casa parecia ficar no fim do mundo, porque atrás do jardim já não havia casas, apenas floresta.

Meteu para Kõveveien. No fim da rua, havia uma curva estreita, a que chamavam a

"Curva do Capitão", e onde quase só ao fim-de-semana se viam pessoas.

Era o começo de Maio.

Nalguns jardins, os narcisos

formavam coroas de flores sob

as árvores de fruto. As bétulas tinham uma fina penugem

verde.

Não era estranho que nessa

estação do ano tudo começasse

a crescer e a desenvolver-se?

Porque é que essa massa de

plantas verdes podia nascer

da terra inanimada logo que o

tempo ficava mais quente e os

últimos vestígios de neve tinham desaparecido?

Sofia espreitou para a

caixa do correio antes de

abrir o portão do jardim.

Geralmente havia muita publicidade e alguns envelopes

grandes para a sua mãe. Sofia

colocava sempre um monte

de cartas na mesa da cozinha,

indo depois para o quarto fazer os trabalhos de casa.

Para o seu pai chegavam

por vezes cartas do banco,

mas ele também não era um pai

comum. O pai de Sofia era

capitão num petroleiro e estava fora quase todo o ano.

Quando regressava a casa

por poucas semanas, deambulava de chinelos pela casa, e

cuidava de Sofia e da mãe de

uma forma enternecedora. No

entanto, quando estava em

viagem, podia parecer muito

distante.

10

Nesse dia havia apenas uma

pequena carta na grande caixa

do correio, e era para Sofia.

"Sofia Amundsen", estava

escrito no pequeno envelope.

"Klõverveien 3". Era tudo,

sem remetente. A carta nem

sequer tinha selo.

Imediatamente após ter fechado o portão, Sofia abriu

o envelope. Encontrou uma

pequena folha, que não era

maior do que o respectivo envelope. Na folha estava escrito: “quem és tu”?

Mais nada. Não havia assinatura, apenas estas três

palavras escritas à mão, seguidas de um grande ponto de

interrogação.

Observou uma vez mais o

envelope. Sim, a carta era

de facto para si, mas quem é

que a tinha posto na caixa do

correio?

Sofia apressou-se a abrir

a porta da casa vermelha.

Como de costume, o gato

Sherekan saiu furtivamente

dos arbustos, saltou para o

patamar e enfiou-se em casa,

antes de Sofia fechar a porta.

- Bichano, bichano, bichano!

Se, por algum motivo, a

mãe de Sofia estava zangada,

dizia que a sua casa parecia

uma feira de animais. Uma

feira de animais era uma colecção de animais diversos e,

na realidade, Sofia estava

bastante satisfeita com a sua

colecção. No início, tinha

recebido um aquário com os

peixes dourados Caracolinho

Dourado, Capuchinho Vermelho e Diabrete. Mais tarde,

foi a vez dos periquitos Tom

e Jerry, a tartaruga Govinda e finalmente o gato amarelo Sherekan. Todos aqueles

animais eram uma espécie de

compensação pelo facto de a

sua mãe chegar tarde a casa e

de o seu pai estar quase sempre a viajar.

Sofia atirou a mala da escola para um canto e pôs um

prato com comida de gato para

Sherekan. Depois, foi sentar-se num banco da cozinha,

com a misteriosa carta na

mão.

Quem és tu?

Se ela soubesse! Era obviamente Sofia Amundsen,

mas quem era Sofia Amundsen? Ainda não tinha descoberto totalmente.

E se tivesse outro nome?

Anne Knutsen, por exemplo.

Seria então uma outra pessoa?

Subitamente, lembrou-se de

que o seu pai inicialmente

lhe gostaria de ter dado o

nome Synnõve. Sofia procurava imaginar como seria se

cumprimentasse alguém e se se

apresentasse como Synnõve

Amundsen - mas não, não

conseguia. Imaginava sempre

uma outra pessoa.

11

Saltou do banco e, com a

estranha carta na mão, dirigiu-se para o quarto de banho. Colocou-se em frente do

espelho, e olhou-se fixamente

nos olhos.

- Eu sou Sofia Amundsen - disse.

A rapariga do espelho nem

sequer respondeu com uma careta. Aquilo que Sofia fizesse, ela fá-lo-ia exactamente da mesma forma. Sofia

procurava adiantar-se em relação ao espelho com um movimento muito rápido, mas a outra era igualmente rápida.

- Quem és tu? - perguntou Sofia.

De novo não recebeu nenhuma resposta, mas por um breve

momento não soube se tinha

sido ela ou o seu reflexo no

espelho a fazer a pergunta.

Sofia tocou com o indicador no nariz reflectido no

espelho e disse:

- Tu és eu.

Não recebendo resposta alguma, inverteu a frase:

- Eu sou tu.

Sofia Amundsen nunca estivera particularmente satisfeita com a sua figura. Ouvia frequentemente dizer que

tinha uns belos olhos de

amêndoa, mas as pessoas diziam-no, sem dúvida, porque o

seu nariz era demasiado pequeno e a boca um pouco grande. Além disso, as orelhas

estavam demasiado junto aos

olhos. Mas o mais grave eram

os cabelos lisos, difíceis de

tratar. Por vezes, o pai

passava a mão pelos seus cabelos e chamava-lhe "a rapariga dos cabelos de linho",

referindo-se a uma composição

de Claude Debussy. Para

ele era fácil dizê-lo, visto

que não estava condenado para

toda vida a ter cabelos compridos e negros, completamente lisos. Nos cabelos de

Sofia nem o gel nem os

sprays faziam efeito.

Por vezes, achava-se tão

estranha que se perguntava se

não seria disforme de nascença. A sua mãe tinha-lhe falado num parto difícil. Mas

seria possível o nascimento

determinar, de facto, a figura de cada um?

Não era estranho que ela

não soubesse quem era? Não

era absurdo não poder decidir

nada quanto à sua figura?

Tinha simplesmente nascido

consigo. Podia escolher os

seus amigos, mas não se escolhera a si mesma. Nunca tinha decidido que queria ser

um ser humano.

O que era um ser humano?

Sofia observou de novo a

rapariga do espelho.

- Vou mas é fazer os meus

trabalhos de biologia - disse, como que desculpando-se.

Em seguida, estava à entrada

da casa.

- Não, prefiro ir para o

jardim - pensou.

- Bichano, bichano, bichano!

Sofia enxotou o gato para

a escada e fechou a porta.

12

Quando ia pelo caminho de

saibro com a misteriosa carta

na mão, teve uma estranha

sensação. Imaginava-se como

um boneco que, por artes mágicas, se tivesse tornado vivo.

Não era estranho que estivesse no mundo e pudesse tomar parte naquela aventura?

Sherekan saltou elegantemente pelo caminho de saibro

e desapareceu por entre os

espessos arbustos. Um gato

vivo, desde a ponta dos bigodes brancos até à cauda ondulante na extremidade do corpo. Também ele estava no

jardim, mas certamente não

estava tão consciente disso

como Sofia.

Depois de ter pensado um

pouco

...

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