Lutando Sozinhos: O desafio do decrescente capital social e a profissão militar
wellington gomesResumen19 de Enero de 2018
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CAPITAL SOCIAL
Lutando Sozinhos: O desafio do decrescente capital social e a profissão militar
FORTE BLISS foi reconhecido como “um modelo promissor para o Exército” dos Estados Unidos da América (EUA), após apresentar uma queda de 30% na taxa de suicídios em 2013. Para fomentar a confiança, apoio e vínculos, com o intuito de reduzir a taxa de suicídios, o Comandante, Gen Bda Pittard, abriu o forte ao público, criou espaços ao ar livre e “reintroduziu as salas de recreação”, onde os soldados pudessem se reunir. Essas ações aumentaram o capital social, que abarca as redes sociais, regras de reciprocidade e confiança social entre os militares, as Unidades e a comunidade. O modelo proporcionado pelo Forte Bliss demonstra a força das conexões entre os militares, seus comandantes, suas famílias e seu entorno. Contudo, esse modelo não foi disseminado em todo o Exército.
Conforme as Forças Armadas dos EUA enfrentarem grandes cortes orçamentários e de pessoal e o término das operações de combate, o Exército, como profissão, deverá reforçar a confiança social e o espírito de corpo de que precisa mediante o desenvolvimento do capital social. Caso o capital social despenque, a força da Profissão também diminuirá. Os desafios incluem reduzidos recursos de treinamento, o que transforma algo que antes ocorria naturalmente — o desenvolvimento do capital social e sua confiabilidade e orgulho — em algo difícil de encontrar, obrigando os militares a lutarem sozinhos em vez de atuarem em equipe. Fora do âmbito do adestramento, outras oportunidades para fomentar a cultura do Exército vêm diminuindo.
As interações nas Unidades estão restritas à jornada de trabalho, em função da redução de verbas destinadas a atividades externas. Até o convívio tem mudado. A maior comunicação e o acesso às mídias sociais permitem que os profissionais militares fiquem mais conectados com suas cidades de origem e se isolem, desvalorizando a cultura do Exército e agravando problemas, como o suicídio e a agressão sexual. Há uma ruptura de conexões entre o Exército e a sociedade em virtude do menor número de bases e de habitantes ingressando na Força, além dos fatores geográficos que separam a população dos militares. Para prevenir essa situação, os comandantes e militares precisam incorporar métodos destinados a manter os níveis atuais de capital social. O maior desafio diante do Exército dos EUA como profissão na próxima década será um colapso do capital social e dos correspondentes vínculos, reciprocidade e confiança, com base nos quais a Profissão próspera.
Ao definir o capital social e seu papel no Exército, defendo que ele tem o poder de manter a força da Profissão. Ao expor fraquezas relativas ao capital social do Exército, demonstro como desenvolver métodos para estruturar tanto a confiança quanto o espírito de corpo dentro da Profissão, com vistas a enfrentar esse desafio.
Definição de Capital Social
O capital social se refere a “redes sociais, regras de reciprocidade, assistência mútua e confiabilidade”[1]. O conceito foi identificado pela primeira vez em 1916, e sua utilização no meio acadêmico tem aumentado desde os anos 90, com a publicação da pesquisa sobre o tema conduzida pelo Professor Robert Putnam, da Universidade Harvard. Putnam primeiro identifica o poder do capital social ressaltando como ele aumenta a “eficiência da sociedade, facilitando as ações coordenadas”[2].
Além disso, as sociedades com um grau elevado de capital social assistem a um aumento no sentimento de orgulho, ou espírito de corpo, que une ainda mais os membros da comunidade. Putnam .identifica, ainda, a confiança como sendo um componente essencial do capital social. A confiança surge pessoalmente no âmbito local, passando a grandes organizações e comunidades por meio da confiança social. Contudo, a confiança social não diz respeito apenas à que é depositada em uma organização; é a confiança entre pessoas, que, quando unidas, geram melhores resultados. Caso presente em um grupo, a confiança social possibilita a ação, porque seus integrantes conseguem antever um comportamento específico por parte daquele que executa a ação.
Existem duas fontes de capital social: as regras de reciprocidade e as redes de engajamento cívico. A reciprocidade aumenta a confiança ao limitar os problemas de ação coletiva ou aquelas situações em que integrantes do grupo se beneficiam caso contribuam ou não. As regras se originam de comportamentos rotineiros e expectativas. A reciprocidade generalizada, ou quando um indivíduo age sem esperar uma contrapartida, pode contribuir mais para o capital social que a troca de favores. Além disso, as redes de engajamento cívico são uma forma essencial de capital social e levam a comunidades com laços mais estreitos. Essas redes são de vários tipos, como as associações, as escolas, as famílias, o ambiente de trabalho ou as igrejas. Tais comunidades requerem “interdependência”, promovendo o desenvolvimento da confiança entre seus integrantes.
Há dois tipos de capital social: o capital social do tipo bonding (de união, de vínculos ou exclusivo) e o capital social do tipo bridging (de ponte ou inclusivo). O capital social de união diz respeito a grupos de indivíduos semelhantes, como os adeptos de uma igreja ou as organizações étnicas. Os grupos que se baseiam nesse tipo de capital social geram grande lealdade interna. O capital social de ponte, por outro lado, consiste em conexões entre integrantes de grupos sociais diversos, como grandes movimentos sociais e as organizações de jovens. Essas conexões são boas para a difusão de informações e a ligação de comunidades e redes.
O capital social de ponte beneficia os que estão dentro e fora do grupo, devido a efeitos externos positivos. Em outras palavras, os que estiverem fora do grupo também obtêm os benefícios oferecidos pelo capital social.
Incorporando a influência econômica da palavra “capital”, o capital social também serve como um bem privado e um bem público. Como bem privado ou individual, o capital social ajuda os integrantes a se aproximarem de suas redes e correspondentes normas de confiança para avançarem. Os indivíduos dentro da rede assistem a melhores resultados em termos econômicos, físicos, sociais e educacionais. Outros benefícios de âmbito privado advêm de se contar com aqueles à sua volta para prestar ajuda e apoio em épocas difíceis. Embora esses exemplos se refiram a vantagens para os integrantes das redes, as organizações podem oferecer benefícios aos que estiverem fora por meio da arrecadação de recursos, do voluntariado ou de apoio. Essas atividades conectam integrantes do grupo a pessoas de fora, ampliando as externalidades.
Desenvolvimento do Capital Social
Como desenvolver o capital social? Uma variedade de comunidades, organizações, escolas e empregadores criam o capital social por meio de políticas, estrutura e atividades. Indivíduos com ideias afins podem formar grupos voltados a diversos interesses. Organizações como Elks, Rotary Club e Veterans of Foreign Wars oferecem exemplos de indivíduos que se unem em torno de interesses comuns. Além disso, as comunidades acadêmicas (particulares e públicas) oferecem oportunidades para desenvolver o capital social. Todas essas oportunidades requerem um local para que as pessoas se reúnam e estabeleçam os vínculos necessários para a confiança presente no capital social. Além dos integrantes, o local facilita o convívio, para a formação de redes e das correspondentes normas.
O ambiente de trabalho, sendo o local mais importante de interação cooperativa e sociabilidade entre cidadãos adultos fora da família, também oferece um potencial contemporâneo para o capital social. Embora alguns afirmem que a associação forçada e a liderança hierárquica presentes no ambiente de trabalho possam limitar as oportunidades para o capital social, é possível estabelecer os vínculos necessários para seu desenvolvimento. O ambiente de trabalho também leva à difusão de opiniões, ideias e crenças.
Ainda que o ambiente de trabalho típico não seja uma solução completa para obter o capital social (já que nosso tempo não nos pertence e nossa associação a outros é involuntária e baseada na busca de remuneração), existem oportunidades, caso possamos integrar a vida profissional com a vida pessoal e com a comunidade.
Mensuração do Capital Social
Dados recentes mostram que o capital social diminuiu em todas as partes dos EUA nos últimos 50 anos. A obra Bowling Alone ("Jogando boliche sozinho" em tradução livre), de Putnam, trata desse declínio por meio de um diagnóstico aprofundado da queda na participação política, no engajamento cívico, na frequência a igrejas e na participação comunitária em geral. Outros pesquisadores também identificaram uma diminuição da confiança social entre os jovens norte-americanos, decorrente de um aumento do materialismo, que enfraquece as virtudes necessárias para a ação coletiva. Putnam também vê uma “aceleração” desse declínio de confiança nessa geração.
De onde vem esse declínio? Alguns propõem que a causa talvez seja a televisão ou o computador[3]. O maior consumo de televisão entre os jovens prejudica sua interação com outras pessoas e seu envolvimento em atividades. Embora não seja uma relação causal, existe uma correlação entre o consumo de televisão e um menor grau de engajamento cívico, porque espectadores assíduos passam tempo isolados, assistindo à TV, em vez de participarem de atividades cívicas. Além disso, estudos sobre as mídias sociais e o apoio mútuo constataram que integrantes das redes sociais virtuais se sentem isolados, apesar do grande número de “amigos”. Ademais, uma população segmentada reduz as oportunidades para criar pontes (bridging). Além da suburbanização e dos custos de oportunidade que as longas viagens diárias entre a casa e o trabalho geram para as famílias, comunidades e atividades, o agrupamento de indivíduos com ideias afins destrói o capital social de ponte. Em sua obra The Big Sort (“A Grande Segmentação”, em tradução livre), Bill Bishop constatou que a segregação política advinda da segmentação reforçava as desigualdades.
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