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Precarização do trabalho bancário no Brasil e no Chile.

ronaldosilva61Tesis16 de Noviembre de 2016

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Impactos da precarização do trabalho sobre o movimento sindical latino-americano: as experiências de centrais sindicais brasileiras, chilenas e paraguaias

Estrutura preliminar da tese

Esta tese será dividida em seis capítulos. O primeiro capítulo discutirá com a bibliografia ampliada e revisada visando formular conceitos precisos sobre a relação entre os dois fenômenos, para desenvolver o instrumental analítico adequado.  

No segundo capítulo discutirei os processos que definem a configuração da precarização do trabalho e do sindicalismo latino-americano: reestruturação produtiva; redefinição de relação capital/trabalho; neoliberalismo como fase do capitalismo histórico.

No terceiro capítulo descreverei o movimento sindical de cada um dos países selecionados, tanto em seus aspectos históricos quanto em relação às suas tradições e cultura, destacando aspectos como a ação sindical, o perfil político dos países e do movimento sindical; as escolhas de metodologias de luta; e a relação movimento, Estado e patronal.

No quarto e quinto capítulos realizarei uma análise comparativa transversal dos três casos escolhidos com vistas a encontrar semelhanças e diferenças que sinalizem tendências do movimento sindical bancário ante o processo de precarização do trabalho.

O sexto capítulo apresentará a conclusão da tese, sintetizando seus principais achados e suas contribuições para a teoria do movimento sindical e do precariado e a teoria em termos gerais, bem como possíveis desdobramentos que possam estimular outros investigadores.


CAPÍTULO 3 – MOVIMENTO SINDICAL BANCÁRIO E PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO NO BRASIL, CHILE E PARAGUAI

  1. BRASIL

  1. Breve histórico e Contextualização

A fundação do primeiro banco brasileiro data de 1808 (o Banco do Brasil, fundado por D. João VI), mas é só no final do século XIX que os bancários começam a se organizar em mutuais e apenas em 1923 é criada a Associação dos Funcionários de Bancos do Estado de São Paulo (não mais de 1.800 trabalhadores). Nesse início de movimento sindical bancário apenas os funcionários de hierarquia superior e os contadores participavam da associação. Os contínuos e funcionários de menor escalão só puderam se associar a partir de 1930. Em 1928 nasceu o sindicato dos bancários do Rio de Janeiro (JUNKES, 2008).

O movimento sindical bancário registrou grande evolução a partir da década de 1930, em parte em função do decreto 19.770 de 1931, que garantia o reconhecimento que as entidades bancárias não haviam conquistado junto à patronal (ANTUNES, 1980), em parte devido ao papel de vanguarda do Sindicado dos Bancários de São Paulo. Em 1934 ocorreu a primeira greve geral nacional da categoria, com a conquista do Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Bancários (IAPB). Em 1939 o Sindicato de São Paulo sofreu intervenção, mas no mesmo ano a categoria bancária realizou o seu primeiro congresso nacional, em Recife. Em resumo, apesar da repressão o movimento sindical bancário atravessou o Estado Novo e até aproveitou a institucionalização do sindicalismo brasileiro para se fortalecer e chegar organizado à redemocratização pós ditadura Vargas, processo que se aprofundou nos vinte anos seguintes.

Em 1959 os trabalhadores bancários fundaram a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Crédito – Contec, primeira confederação sindical fundada diretamente pelos trabalhadores, no Brasil (JUNKES, 2008). Nesse período o movimento sindical bancário se difundiu por todo o país e passou a participar dos grandes debates nacionais, como a reforma do sistema bancário. Essa trajetória foi interrompida com o golpe militar de 1964. Os sindicatos de bancários e a Contec sofreram intervenção do governo militar. Apenas em 1979 o movimento de oposição bancária de São Paulo reconquistou o sindicato (JUNKES, 2008). Nesse mesmo ano o número de greves quase quintuplicou em relação ao ano anterior, passando de 24 para 113 paralisações. Nesse processo as diretorias ligadas ao regime militar e aos banqueiros foram sendo derrubadas em várias partes do Brasil.

No período pós golpe militar de 1964, o ponto alto do processo de reorganização dos bancários brasileiros foi a fundação da Confederação Nacional dos Bancários da CUT – CNB-CUT, em 1992, em oposição à Contec que permaneceu nas mãos de dirigentes identificados com o velho sindicalismo pelego. Posteriormente, em 2006, a CNB foi transformada em Confederação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro – Contraf, ligada à CUT. Segundo a Contraf “agora, ela procura organizar e representar todos os trabalhadores que desempenham funções no setor financeiro. Isso inclui bancários, financiários, promotores de crédito, e funcionários de empresas que terceirizam o trabalho dos bancos” (CONTRAF, 2008).

No momento a maioria dos sindicatos bancários brasileiros está ligada à Contraf-CUT, que afirma representar 90% dos bancários do Brasil. Alguns sindicatos são dirigidos por outras centrais sindicais. Os sindicatos de Bauru (SP), do Rio Grande do Norte e do Maranhão são dirigidos pela CSP-Conlutas. As federações de bancários de São Paulo e Mato Grosso do Sul, do Paraná, de Santa Catarina e algumas outras, em geral sem sindicatos expressivos em suas bases, são dirigidas pela Contec, filiada à União Geral de Trabalhadores - UGT. A Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – CTB e a Intersindical, que não chega a ser uma central sindical, também tem movimentos de oposição ou sindicatos bancários de menor expressão em suas bases.

  1. Descrição da Pesquisa

A pesquisa apresentada a seguir é resultado de entrevistas realizadas junto a dirigentes dos sindicatos de bancários de São Paulo e Brasília, ligados à Contraf-CUT e a dirigentes do sindicato dos bancários de Baurú, ligados à CSP Conlutas e de ampla pesquisa documental realizada nos sindicatos dos bancários de São Paulo e de Baurú, na sucursal Brasília do DIEESE, em acordos coletivos de sindicatos de trabalhadores terceirizados, disponíveis na internet, no site da Febraban e em publicações da grande imprensa nacional.

As entrevistas foram realizadas entre os meses de agosto e setembro e a pesquisa documental entre os meses de maio a outubro.

  1. Perfil do Sistema Financeiro Brasileiro

O sistema financeiro brasileiro é caracterizado por forte concentração[1] de capitais e, na acepção marxiana[2], passa por um processo de intensa centralização capitalista desde já algumas décadas (TROSTER, 2015).

Expressando essa centralização do capital financeiro, enquanto, em 1994, o número de instituições em operação era de 246 (TROSTER, 2015), em setembro de 2015 a Febraban informava um total de apenas 118 instituições filiadas à entidade.

A centralização bancária foi intensificada pelo processo de reestruturação vivido pelo setor, desde a segunda metade dos anos de 1990, conforme demonstra o mapeamento realizado por Faria, Paula e Marinho (2006) das principais fusões e aquisições vividas pelo setor no referido período:

[pic 1]

Como resultado desse processo, já em 2013 a Febraban revelava que as 18 principais instituições financeiras do país respondiam por 97% das agências bancárias e por 90% dos ativos totais do segmento (FEBRABAN, 2013). Na tabela abaixo veem-se alguns números, relativos aos 50 maiores bancos brasileiros, que expressam essa concentração e centralização do capital financeiro no país:

50 maiores bancos brasileiros por Patrimônio Líquido (PL) ajustado[3]

Banco

PL Ajustado

Depósitos

Ativo Total Ajustado

Número de empregados

Itaú Unibanco

96,96

98,32

404,13

93.200

Bradesco

89,80

101,81

329,57

82.011

Banco do Brasil

79,72

156,43

461,77

111.628

Caixa Econômica Federal

62,72

139,97

355,67

101.484

Santander

53,21

53,12

208,37

49.309

BTG Pactual

15,22

7,98

51,22

1.201

HSBC

10,15

19,74

56,02

20.488

Demais

88,29

75,37

310,28

52.702

Valores monetários em US$ bilhão.

Preparado pelo pesquisador a partir de informações obtidas em Maiores e Melhores 2015. Jul/2015. Editora Abril; Relatório anual do HSBC Bank Brasil S.A.

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