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Ciencia E Medicina

LSalvador7 de Febrero de 2012

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3. Ciência e Medicina

Luiz Salvador de Miranda Sá Jr.

“É impossível aprender sobre aquilo que se crê conhecer” Epicteto

No século XVII, a palavra filosofia ainda era empregada comumente como sinónimo de "ciência física ou ciência da natureza", o que hoje se denomina ciência natural, ciência da natureza. Pode-se exemplificar com a obra fundamental em que Newton expõe sua mecânica, que foi intitulada "Princípios matemáticos de filosofia natural". Em página muito célebre de seus "Princípios de Filosofia", Descartes declarava que "toda a filosofia é como uma árvore cujas raízes são a metafísica, o tronco a física e os três ramos principais a mecânica, a medicina e a moral".

A Medicina já foi um ramo da Filosofia da Natureza até se autonomizar, transformando-se na ciência médica que se multiplicou nas ciências médicas atuais. A ciência médica foi, originalmente, um ramo da Filosofia Natural ou da Natureza. Após, uma destas “ciências físicas”, (do gr. physis = natureza) razão pela qual os médicos foram chamados “físicos” até o Iluminismo designação que sobrevive no inglês phisician.

Todo conhecimento traz, implícita ou explícita, uma certa impressão ou convicção de verdade. Anteriormente, neste texto, quando se definiu o que é conhecimento, foi feita menção à necessidade implícita nele de haver sempre uma certa impressão ou convicção de que se tratava da verdade que existe em todas as suas manifestações.

No conhecimento científico, esta impressão de veracidade é e deve ser muito maior. Pois, a ciência foi criada exatamente para ampliar esta convicção de realidade ao seu ponto máximo em cada momento de sua evolução histórica. E a cientificidade que acompanha a imagem da Medicina tem sido um dos principais elementos de sua credibilidade.

Os médicos devem possuir informações acerca do conhecimento científico porque sua existància social está fundamentada em sua cientificidade. A sociedade espera que os médicos (e os demais profissionais da saúde) tenham formação científica mínima. E o mínimo que se pode esperar deles é que sejam capazes de reconhecer o que é científico em sua atividade e em seu estudo. Por isto, espera-se que sejam capazes de reconhecer mais que superficialidade da atividade científica, o que justifica o estudo deste tema.

Em geral, as conclusões científicas são (ou deveriam ser) objetivas e exatas (ou serem o mais aproximadamente precisas que for possível, sempre perseguindo a exatidão), e visam descobrir as leis que regem algum aspecto definido da natureza, da sociedade, do homem e de suas realizações. Porque tudo isto diferencia o conhecimento científico do vulgar.

Muito mais que em qualquer outra forma de conhecimento, o conhecimento científico deve expressar o grau de veracidade de seus enunciados em relação ao que se conhece do mundo. Enquanto a impressão de convição de veracidade que acompanha um dado do conhecimento comum é unicamente uma impressão subjetiva, como as crenças, por exemplo.

O grau de veracidade de um enunciado científico deve poder ser definido e comunicado objetivamente com a exatidão que for possível obter em cada momento. Por sua coerência interna e externa (nas ciências formais) e por sua correspondência com a realidade (nas ciências factuais). Infeizmente, apesar disto ainda não ser possível, espera-se que venha a ser.

Esta premissa aplicável a todo conhecimento científico torna-se ainda mais necessária e evidente quando aplicada à prática médica.

Tal como acontece com ambigüidade que caracteriza a noção de “conhecimento”, para o qual já se chamou a atenção, no que respeita ao conceito de conhecimento científico, sua significação também abrange tanto o processo de elaboração da informação científica, quanto, simultaneamente, o acervo de conhecimentos científicos resultantes daquele processo - a ciência-processo e a ciência-resultado, os procedimentos científicos de investigação e os conhecimentos obtidos com eles.

Ademais, o grau de certeza presente em qualquer conhecimento deve poder ser reconhecido no conhecimento científico. Apesar de seu caráter subjetivo, existe uma certeza inteiramente subjetiva e uma certeza objetivamente originada. Deve-se, portanto, diferenciar a certeza da fé, que é uma convicção de base afetiva, da certeza do conhecimento, que é a convicção originada na racionalidade ou na objetividade da ciência fornecida pelos sentidos e pela experiência. Muita convicção tem suas raízes no interesse subjetivo ou objetivo de quem a experimenta.

Não obstante, alguma dúvida deve estar presente em todas as manifestações do conhecimento científico. O cientista sabe que todas as suas opiniões podem ser reformadas, negadas, substuídas. E deve sentir isto como algo muito bom, desejável, mesmo. Com as religiões e outros tipos de exteriorização das crenças isto não pode acontecer. As religiões, todas as que existem e existiram, são tidas como eternas e detentoras de verdades absolutas. A ciência, não; sabe-se que seu saber é provisório, ainda que possa chegar a permanentes, para todos os efeitos práticos, mas não se pode antever isto em cada caso concreto.

Ciência Médica e Ciências Médicas

O conhecimento médico reúne as informações (descritivas e explicativas) sobre a estrutura, o funcionamento do organismo humano, suas enfermidades e sobre os enfermos; sobre os procedimentos diagnosticadores e profiláticos de enfermidades, terapêuticos e reabilitadores dos enfermos. Estes conhecimentos podem se referir a fenômenos naturais (que existem na natureza de maneira independente da vontade de alguém) ou podem se referir a conceitos elaborados por alguém, mas sempre se incorporam à consciência como conteúdos subjetivos.

Todos os que se preparam para desempenhar atividades tecno-científicas, não apenas o exercício da Medicina ou das demais tecnologias de saúde, mas em em qualquer outro trabalho social que deva ser cientificamente embasado, devem se preocupar em conhecer a situação de suas profissões como atividades científicas (o chamado estado da arte), de conhecer a dimensão técnica e científica de seu exercício e de se manter permanentemente atualizado, para melhor servir à sua clientela. Os médicos, sobretudo, necessitam conhecer o status de cada atividade técnica a que se dedica ante a ciência e o grau de cientificidade contida nos procedimentos técnicos que emprega. O que não consiste em uma exigência unicamente da técnica, mas também da ética.

A história registrada mostra que a Medicina terá sido uma das primeiras sementes e sementeiras da ciência, desde sua origem perdida no passado mais remoto, antes mesmo dos tempos históricos. Pois, no alvorecer da civilização, foi uma das primeiras atividades científicas cultivadas pelo homem, ainda no velho Egito, bem antes de surgir a Medicina leiga, quando a prática médica era uma função mágico-sobrenatural, exercida por xamãs, feiticeiros e, depois, pelos sacerdotes.

Por volta do século V a.C., surgiu na Grécia como atividade leiga e foi denominada Medicina Racional e que, muito mais tarde teve sua denominação mudada para Medicina Científica. A expressão Medicina racional foi criada para diferenciar a nova prática médica do curandeirismo, da feitiçaria e outros tratamentos supersticiosos então vigentes. Todas reunidas sob a designação de medicina religiosa, medicina supersticiosa, medicina popular e que hoje se denomina medicina tradicional.

Como se pode constatar, desde a Antigüidade, a história da Medicina se confunde com a história da ciência e do desenvolvimento científico. Sem que tenha deixado de ser uma atividade sócio-econômica, uma modalidade de trabalho social mais destacada que as demais no mercado de serviços, além de uma atividade interpessoal que exigia mais controle ético de seus praticantes que todas as demais. Mas principalmente, sem abandonar sua característica mais essencial de ajuda solidária aos doentes em seu padecimento.

Durante muitos séculos a Medicina foi considerada como ciência específica, a assim chamada ciência médica ou Medicina-ciência ou ciência médica. Contudo, muito cedo na história, seu objeto foi ampliado de tal maneira, seu patrimônio de conhecimento se avolumou tanto, multiplicaram-se tanto as suas técnicas e os recursos que tem que mobilizar em sua práxis, que foi necessário subdividí-la em diversas ciências.

Desde a Antigüidade ao Renascimento, denominava-se ciênci a qualquer elaboração intelectual que parecesse convincente. Este primeiro momento da Medicina omo atividade cognitiva científica foi assinalado pela abandono do todas as explicações de caráter sobrenatural. A Medicina tornou-se agnóstica e passou a buscar na natureza as causas e mecanismos patogênicos das enfermidades. As teorias dos humores e dos miasmas provém deste moeno e nortearam a atividade médica.

O Iluminismo, ao longo da maior parte dos séculos XVIII, foi marcado por um asso adiante neste processo de evolução científica da Medicina. Foram progressivamente abandonadas as convicções racionais sem base na experiência. CiIencia é experiência, dizia-se então. Mas é preciso saber que a noção de experiência incluía (no início, quanse se resuma à obsevação sistemática, de natureza indutiva. Mas os métodos experimentais (em que se criavam criavam deliberadamente as condições em que os fatos ocorriam) foram sendo progressivamene sendo desenvolvidos e preferidos, fazendo surgir os métodos hipotéticos- dedutivos.

Desde o século dezenove

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