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Una Resenha - Quando nosso mundo se tornou cristao (Paul Veyne)


Enviado por   •  22 de Noviembre de 2017  •  Reseñas  •  1.469 Palabras (6 Páginas)  •  235 Visitas

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RESENHA

VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão. Lisboa: Edições Texto & Grafia, 2009, 187 p. VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão: (312-394). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.

Leonardo Vitor de Brito Bueno

Graduando em História

“Os historiadores estão menos habituados à exceção do que ao saudável método de situar em uma série” (p.13). Talvez seja esta frase a que melhor defina a intenção historiográfica de Paul Veyne na obra aqui resenhada. Nascido em 13 de junho de 1930, em Aix-en-Provence, na França, Paul Veyne é um historiador e arqueólogo especializado em Roma Antiga. Lecionou na Escola Francesa de Roma, na Sorbonne e na Universidade da Provença, para, em 1975, entrar no Collège de France, onde foi titular da cadeira de história romana até 1998.  É autor de livros bastante difundidos, entre eles “Como se Escreve a História”, “Pão e Circo” e “Acreditavam os Gregos em seus Mitos?”. É comum encontrar referências do autor entre os historiadores da chamada “Terceira Geração dos Annales”, cujas características serão reforçadas na obra em questão.

No livro [Quando nosso mundo se tornou cristão], Veyne utiliza a história do imperador romano Constantino (séc. IV e.c.) para contrapor-se à ambição globalizante da disciplina histórica e à ideia de que existem leis que guiam o modo de viver humano, assunto que já havia tratado em “Como se Escreve a História”[1]. Para tal, ele argumenta no decorrer do livro que a conversão de Constantino ao cristianismo não foi mera jogada estratégica, uma "ideologia a ser inculcada aos povos por cálculo político” (p.19), mas que foi fruto de um projeto íntimo de ser o divisor de águas entre a luz e as trevas, de viver uma “epopeia sobrenatural” (p. 12).

A discussão gira em torno das causas e das mudanças provocadas pela sua conversão: como uma decisão pessoal e inusitada pode abalar os rumos da história, fugindo a qualquer regra. Em suma, percebe-se que Veyne questiona uma visão positivista e hipercrítica da transformação religiosa pessoal do imperador, pondo em pauta o papel do indivíduo como possuidor de vontade própria, numa história livre de arquétipos lógico-sequenciais das ciências exatas.

O sonho precedente à vitória de Constantino sobre Maxêncio na batalha da Ponte Mílvia teria sido o estopim da conversão do príncipe; “ninguém poderia prever ainda se Constantino daria consequências públicas àquela situação” (p. 126). O imperador, portanto, não realizara cálculos, uma vez que cerca de nove décimos da população rejeitava o cristianismo, até então perseguido – na verdade, em 311, isto é, o ano anterior da conversão discutida, já havia sido redigido o édito de tolerância de Galério; esta informação que Veyne apresenta põe como imprópria a noção de que o Édito de Milão (313) teria sido o final da era persecutória dos cristãos (Nota 10, capítulo I). Não que ele fosse “um puro espiritual, mas os historiadores que só veem em Constantino um político calculista, como fizera Jacob Burckhardt, não conseguem ir muito longe. Segundo estes autores, Constantino teria procurado o apoio de um partido cristão contra seus inimigos, Maxêncio ou Licínio; Veyne defende que isso “é supor Constantino com uma psicologia muito curta.” (p.108).

Talvez, se a estratégia fosse para Constantino assim tão importante como alguns eruditos destacam, ele teria logo se batizado (coisa que só ocorreu no leito de morte) e cumprido os ritos religiosos da cristandade, o que não ocorreu.

Apesar da centralidade da conversão no enredo da obra, Veyne recusa-se a tratar sobre motivações mais profundas, dada a sensibilidade da fé e a parcialidade das suas relações com a razão: “quanto à razão profunda dessa conversão, nunca saberemos. [...] as causas últimas de qualquer conversão são impenetráveis, estão na "caixa preta" impossível de abrir” (p. 104).

Veyne apresenta o cristianismo como um movimento de vanguarda que poderia agregar benefícios consideráveis aos adeptos; enquanto que no paganismo tinha-se deuses muito menos “afetivos” e dispostos que o dos cristãos, a nova religião apresentava uma dinâmica inovadora que distinguia-se do que era conhecido até então, contando com “outros atrativos, desconhecidos do paganismo, [que] foram suficientes para suscitar a maior parte das conversões: a piedade amorosa que essa religião de amor respirava, os fervores coletivos durante as longas sinaxes (assembleias) semanais de um culto comunitário, eclesial, a esperança e a alegria de uma destinação sobrenatural, a paz da alma” (p. 72-73); “Nossa existência na terra não tinha mais o absurdo de uma breve passagem entre dois nadas” (p. 53). Soma-se a estes fatores a abertura a todos que desejassem seguir o exemplo do imperador, graças às missões, outra inovação, já que o proselitismo não era comum entre os judeus e pagãos assim como foi entre os cristãos.

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