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PSICOLOGIA SOCIAL E PROCESSO GRUPAL: A COERÊNCIA ENTRE FAZER, PENSAR E SENTIR EM SÍLVIA LANE

MaLM3 de Diciembre de 2012

3.291 Palabras (14 Páginas)1.469 Visitas

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RESUMO: O presente artigo trata da concepção histórica e dialética de processo grupal proposta por Sílvia Lane,

que utiliza como base para suas reflexões os pressupostos de materialismo dialético quando considera os aspectos

pessoais, as características grupais, a vivência subjetiva e a realidade objetiva e o caráter histórico do grupo. O que

pretendemos enfatizar neste artigo é a produção sobre grupo presente em sua obra que foi se construindo no decorrer

das décadas de 1980 e 1990, sintetizada no texto O processo grupal. Neste sentido, busca-se trazer as contribuições

presentes no conjunto de sua obra, sistematizadas em artigos, coletâneas e livros, em que Sílvia Lane discute a

articulação de algumas categorias fundamentais para a análise do processo grupal e suas implicações teóricas,

metodológicas e prático-políticas.

PALAVRAS-CHAVE: Processo grupal; atividade; consciência; Psicologia Sócio-Histórica.

SOCIAL PSYCHOLOGY AND GROUP PROCESS: COHERENCE BETWEEN DOING,

THINKING AND FEELING IN SÍLVIA LANE

ABSTRACT: The present article discusses historic and dialectical conceptions of group process by Sílvia Lane, that

uses like base for her reflections the presuppositions of dialectical materialism, when the author considers the personal

aspects, the group characteristics, the subjective existence and objective reality and the historical character of

the group. This article intends to emphasize the production written by Sílvia Lane about group between 1980 and

1990 summaried in the text The group process. In this direction, it searchs to bring the contributions in her work

through articles, collections and books that Sílvia Lane discusses some fundamental categories to the analysis of

group process and their theoretical and methodological evolvement and practical-politics.

KEYWORDS: Group process; activity; conscience; Psychology socio-historical.

As publicações do artigo Uma redefinição da Psicologia

Social na revista Educação & Sociedade (1980a) e

do livro O que é Psicologia Social (1981a) por Sílvia

Lane marcam claramente um novo momento da história

da Psicologia Social brasileira e latino-americana. Nesses

trabalhos, num explícito posicionamento ético-político,

Lane apresenta as bases para a construção de uma

Psicologia Social crítica no Brasil.

Mais adiante, em A Psicologia Social e uma nova

concepção do homem para a Psicologia, do livro Psicologia

Social: O homem em movimento, Lane (1984a)

reafirma que “caberia à Psicologia Social recuperar o

indivíduo na intersecção de sua história com a história

de sua sociedade – apenas este conhecimento nos permitiria

compreender o homem enquanto produtor da

história” (p. 13).

Na Arqueologia das emoções, Lane (2000a) inicia

seu texto retomando os principais pressupostos teóricometodológicos

que permearam a sua produção desde os

anos 80, reafirmando sua filiação à abordagem da psicologia

com base no materialismo histórico e dialético. No

decorrer das décadas de 1980 e 1990, seu trabalho foi

enriquecido com as contribuições da psicologia sóciohistórica

russa de Vigotski, Leontiev e Luria, e os escritos

de Wallon e Martín-Baró, evidenciando a coerência teórico-

metodológica da professora Sílvia Lane na produção

científica, na perspectiva da psicologia social crítica. A

ênfase no papel da psicologia social enquanto contribuição

para a compreensão do psiquismo, através do estudo

da consciência humana e da proposição de práticas

psicossociais está sempre presente em suas publicações.

A importância de sua produção, tanto para nos indicar

os subsídios teóricos, quanto para o delineamento

metodológico das investigações psicossociais, é evidente.

No entanto, o que pretendemos enfatizar neste artigo

é a produção sobre grupo presente em sua obra, fundamentalmente

o texto O processo grupal, capítulo do livro

Psicologia Social: O homem em movimento (1984b),

que sintetiza os aspectos teóricos, metodológicos e práticos/

políticos de suas reflexões sobre o tema, contribuindo

para a elaboração de uma concepção histórica e

dialética do processo grupal.

As contribuições de Sílvia Lane para a formulação

de concepção e propostas de análise do processo grupal,

como ela mesma dizia, foram se construindo no decorrer

de suas experiências de pesquisa, na disciplina

Psicologia & Sociedade; 19, Edição Especial 2: 76-80, 2007

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“Processos Grupais” que ela ministrava para seus alunos

no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social,

na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUCSP

(1981b, 1989; Lane & Freitas, 1997), e no diálogo

com vários colegas da Psicologia Social brasileira e latino-

americana. Neste sentido, traremos para o texto as

contribuições presentes em sua produção, sistematizadas

em artigos, capítulos de livros e livros, em que ela, e

por vezes com colaboradores, faz menção ao tema.

Processo Grupal: Uma Perspectiva Histórica

e Dialética

Ao realizar uma revisão de diferentes teorias sobre

grupo, Lane (1984b) encontrou em seus estudos duas

grandes posições. A posição tradicional defendia que a

função do grupo seria apenas a de definir papéis e, por

conseqüência, implicaria garantir a produtividade dos

indivíduos e grupos através da manutenção e harmonia

das relações sociais. Outra posição, por sua vez, enfatiza

o caráter de mediação do grupo, afetando a relação entre

os indivíduos e a sociedade. Nesta posição prevalece a

preocupação com o processo pelo qual o grupo se produz,

considerando as determinações sociais presentes

nas relações grupais. A partir dessa constatação e se

apropriando dos avanços que algumas teorias traziam

para a compreensão da experiência grupal enquanto

processo, Lane propõe algumas premissas para se conhecer

o grupo:

1) o significado da existência e da ação grupal só pode

ser encontrado dentro de uma perspectiva histórica

[itálicos nossos] que considere a sua inserção na sociedade,

com suas determinações econômicas, institucionais

e ideológicas [itálicos nossos]; 2) o próprio

grupo só poderá ser conhecido enquanto um processo

histórico [itálicos nossos], e neste sentido talvez fosse

mais correto falarmos em processo grupal [itálicos

nossos], em vez de grupo. (Lane, 1984b, p. 81).

Ao falar em processo grupal e não em grupo ou dinâmica

de grupo Lane (1981b, 1984b) se posiciona, trazendo

para o centro da discussão o caráter histórico e

dialético do grupo. Não se trata apenas de diferença na

denominação, mas uma diferença profunda no fenômeno

estudado. A partir dessa perspectiva, estamos afirmando

o fato de o próprio grupo ser uma experiência histórica,

que se constrói num determinado espaço e tempo,

fruto das relações que vão ocorrendo no cotidiano e, ao

mesmo tempo, que traz para a experiência presente vários

aspectos gerais da sociedade, expressas nas contradições

que emergem no grupo, articulando aspectos pessoais,

características grupais, vivência subjetiva e realidade

objetiva. Ressaltar o caráter histórico do grupo implica

compreender que o grupo, na sua singularidade,

expressa múltiplas determinações e as contradições presentes

na sociedade contemporânea. Assim, segundo

Lane (1984b),

todo e qualquer grupo exerce uma função histórica de

manter ou transformar as relações sociais desenvolvidas

em decorrência das relações de produção e, sob

este aspecto, o grupo, tanto na sua forma de organização

como nas suas ações, reproduz ideologia, que,

sem um enfoque histórico, não é captada. (p. 81-82)

Neste sentido, tomando como base a concepção histórica

e dialética do processo grupal presente na obra de

Lane (1980a, 1981b, 1984b, 1989, 1998; Lane & Freitas,

1997), não é suficiente afirmar que o grupo baseia-se

apenas em reunir pessoas que compartilham normas e

objetivos comuns. Significa compreender o grupo enquanto

relações e vínculos entre pessoas com necessidades

individuais e/ou interesses coletivos, que se expressam

no cotidiano da prática social. Além disso, o grupo é

também uma estrutura social, uma realidade total, um

conjunto que não pode ser reduzido à soma de seus membros,

supondo alguns vínculos entre os indivíduos, ou

seja, uma relação de interdependência. À semelhança de

qualquer vivência humana, o processo grupal implica

relações de poder e de práticas compartilhadas e, ao se

realizar, desenvolve a sua identidade (intragrupo e

intergrupos). A atividade grupal tem, portanto, a dimensão

externa relacionada com a sociedade e/ou outros grupos,

quando o grupo deve

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