INVESTIGAÇÕES FILOSÓFICAS DE LUDWIG WITTGENSTEIN
mlemos28 de Enero de 2012
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INVESTIGAÇÕES FILOSÓFICAS: ANOTAÇÕES 1 ATÉ 10.
Miriam Teresa Lemos
Rio de Janeiro
2008
1
INTRODUÇÃO
É comum a referência aos trabalhos filosóficos nos quais Wittgenstein empenhou boa
parte de sua vida como sua obra, compreendendo-a como um todo integrado partindo de uma
proposição principal para a análise em extensão e profundidade da linguagem, ou mesmo que
o conjunto dos seus textos guardaria um sistema de idéias sempre perseguido pelo autor,
partindo do Tractatus Logico-philosophicus.
Essa não é, contudo, a percepção do próprio Wittgenstein1.
Na introdução de Investigações ele nos diz que realmente fora sua intenção conceber
um todo, mas que, ao cabo, tornaram-se “anotações que não caminharam em uma única
direção, como é próprio da investigação”2. De modo que, Investigações Filosóficas trata de
uma variedade de objetos, examinados em várias direções, e sua relação com o Tractatus é
muito mais de contrariedade do que continuidade, segundo o autor.
Parece, ainda, que o título alude à análise da linguagem como um método criado por
Wittgenstein para investigar problemas filosóficos, que embora tenham a linguagem como
ponto central também a superam, no sentido de que ultrapassam o problema do
esclarecimento de proposições. De outro lado, foi também a própria proposição que ele tomou
como um objeto de análise.
Um problema inicial pode ser o de encontrar algum fio condutor que dirija nossa
atenção para um ponto, ou para certo conjunto de idéias que possa ser tratado no presente
texto de modo a especificar qual tema de investigação mais preocupou Wittgenstein no
contexto de suas “Investigações filosóficas”.
Outrossim, o limite deste artigo é bastante estreito, porquanto se incumbe de examinar
apenas as dez primeiras anotações da primeira parte do livro, e como orientação foi sugerido a
leitura exclusiva dessas notas.
Em razão dessa limitação, indicarei apenas um ponto dentro dessas anotações como
principal, isto é, não tenho intenção alguma de dar conta do pensamento wittgensteiniano, ou
de correlacionar esta pesquisa com trabalhos de outros autores, mas sim seguir a orientação do
próprio autor no Prefácio, qual seja, “(...) estimular alguém a pensar por si próprio”. Sendo
assim, entendo que devo indicar o conceito de jogos de linguagem como esse ponto que
1 “ Há quatro anos, porém, tive a oportunidade de reler meu primeiro trabalho (o Tractatus Logico-philosophicus) e de
esclarecer seus pensamentos. De súbito, pareceu-me dever publicar juntos aqueles velhos pensamentos e os novos, pois
estes apenas poderiam ser verdadeiramente compreendidos por sua oposição ao meu velho modo de pensar, tendo-o como
pano de fundo” (Prefácio)
2 As palavras grifadas com itálico foram usadas por Wittgenstein em Investigações Filosóficas.
2
marca Investigações.
Inicialmente porque o termo surge pela primeira vez na Nota 7, ou seja, logo no
princípio – e dentro do limite estabelecido para o trabalho -, ocupando depois grande parte do
livro, o que revela a importância do conceito para o método de análise de Wittgenstein.
Ainda, porque a concepção de jogos de linguagem, embora seja correntemente tida
como a maior contribuição de Wittgenstein à Filosofia analítica, portanto, mais interessante
do ponto de vista da biografia intelectual do autor, não surge nos seus textos como uma
conclusão lógica de seus estudos.
Em razão de tais fatos, pareceu-me importante identificar o contexto em que
Wittgenstein emprega o termo pela primeira vez em “Investigações Filosóficas”, com o
objetivo de desvendar uma das suas motivações para a seleção das Notas na seqüência em que
estão apresentadas em Investigações filosóficas.
Investigações 1 a 10 .
Pensemos, então, que Wittgenstein selecionou criteriosamente as suas anotações, de
modo a que as primeiras introduzissem o termo jogo de linguagem - sem que o tenha
nomeado expressamente antes da Nota [7] - e que, ao final dessas dez primeiras anotações o
termo já esteja, digamos, suficientemente indicado para ser, a partir daí, tratado e aplicado
como preceito para análise de outros problemas filosóficos .
Uma idéia relacionada ao conceito, e que encontramos nas anotações [1] até [10] é a
que diz respeito ao problema filosófico da “significação”, e uma primeira questão é a de saber
se a significação é uma condição prévia para o emprego da linguagem com intenção
comunicativa.
A atividade lingüística que indica objetos a uma criança (elucidação ostensiva) é
tratada por Wittgenstein como equivalente a uma linguagem elementar, onde a identidade
imediata entre o nome e objeto por ele designado apresenta um aspecto da palavra que serve a
um fim específico: um comando.
Ensinar palavras trata-se de um treinamento, não uma explicação3, nos diz [Nota 5]. As
atividades ligadas ao ensino da linguagem, como mostrar os objetos, pronunciar a palavra,
usar um tom determinado, ou demonstrar através de gestos, contribuem para realizar uma
3 Possivelmente Wittgenstein está revendo a idéia da análise de uma proposição pela decomposição em seus
elementos mais simples, chegando-se, assim, ao “fundamento” da proposição.
3
associação entre palavra e objeto, mas não é essa a melhor forma para a análise da linguagem.
Assim, o sistema de comunicação enunciado por Agostinho [Nota 1] não dá conta da
análise da linguagem porque não coloca em jogo a significação que as palavras podem
adquirir na relação ensinar/aprender; apenas mostra como elas funcionam dentro da intenção
comunicativa restrita à utilidade do emprego da linguagem4 . É, portanto, a comunicação (ou
melhor dizendo, a intenção de comunicar) uma parte do conceito de linguagem, a parte
prática da relação entre palavra-coisa-ação (ou entre linguagem e realidade). Limitando-se,
portanto, a ser uma das atividades que apresentam a linguagem.
Sendo assim, a linguagem não é pragmática em si, apenas o pode ser o seu uso. Falar
não inclui outras funções da linguagem, e não é uma condição prévia para a utilização da
linguagem como comunicação. Logo, a significação das palavras não é, também, condição
prévia para a comunicação “(...) o conceito geral de significação das palavras envolve o
funcionamento da linguagem como uma bruma que torna impossível a visão clara”. 5
A finalidade da linguagem de nomear o objeto que a suporta enquanto signo
(designação), e a sua atividade intencionalmente comunicativa são modos primitivos de uso
da linguagem e definem quais atividades devem ser executadas e quais reações devem ser
esperadas diante do pronunciamento de tais palavras. Esta descrição geral do uso da
linguagem é aplicável apenas quando se quer afastar o mal-entendido , ou seja, é uma função
discriminadora da linguagem.
Wittgenstein admite que uma outra finalidade da palavra pode ser evocar o objeto no
espírito no caso do ensino ostensivo, mas não é o caso quando requer uma ação [Nota 2]. Há
uma dissociação entre ensinar a palavra e agir conforme a palavra.
No ensino pode-se explicar uma relação, ao passo que na ação a relação tem que ser
mostrada. Para que se produza uma relação palavra-objeto-ação (ou entre a linguagem e a
realidade) o que se requer é um contexto onde essa relação tenha uma significação
determinada e não necessária . Daí que o sentido que resulta dessa relação depende do
significado implicado no “jogo”, e não do uso das palavras ou do modo como se designam os
objetos. Tanto faz designar os signos de uma ou outra forma segundo uma relação conhecida,
a função das palavras varia de acordo com as discriminações que devem ser feitas em razão
4 Talvez por influência de Frege quanto aos sentidos diferentes que pode adquirir uma expressão equivalente,
como expressões diversas para se referir a um mesma coisa, idéia, objeto.
5 [Nota 4] (...) Quando se
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