Fixamento - Revolução Industrial - Eric Hobsbawn
Karllaachieta24 de Junio de 2014
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Hobsbawn, Eric j. A Revolução Industrial In. A Era das Revoluções:1789-1848, tradução de Maria Tereza Lopes Texeira e Marcos Penchel, São Paulo: paz e terra, 1977. P.57-95.
A Revolução Industrial
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(...) as repercussões desta revolução não se fizeram sentir de uma maneira óbvia e inconfundível (...) Até 1840 a grande corrente de literatura oficial e não oficial sobre os efeitos sociais da revolução industrial ainda não começara a fluir(...) Só a partir da década de 1840 é que o proletariado, rebento da revolução industrial, e o comunismo, que se achava agora ligado aos seus movimentos sociais(...)O próprio nome de revolução industrial reflete seu impacto relativamente tardio sobre a Europa. [p.58]
(...)seria de bom alvitre considerá-la (...) por duas razões. Primeiro, porque de fato ela "explodiu" (...) antes que a Bastilha fosse assaltada; e, segundo, porque sem ela não podemos entender o vulcão impessoal da história sobre o qual nasceram os homens e acontecimentos mais importantes de nosso período e a complexidade desigual de seu ritmo. [p.58-59]
(...)a revolução industrial não foi um episódio com um princípio e um fim. Não tem sentido perguntar quando se "completou", pois sua essência foi a de que a mudança revolucionária se tornou norma deste então. (...) Na Grã-Bretanha, e portanto no mundo, este período de industrialização inicial provavelmente coincide quase que exatamente com o período de que trata este livro, pois se ele começou com a "partida" na década de 1780, pode-se dizer com certa acuidade que terminou com a construção das ferrovias e da indústria pesada na Grã-Bretanha na década de 1840. Mas a revolução mesma, o "ponto de partida", pode provavelmente ser situada, com a precisão possível em tais assuntos, em certa altura dentro dos 20 anos que vão de 1780 a 1800: contemporânea da Revolução Francesa, embora um pouco anterior a ela. [p.60]
Qualquer que tenha sido a razão do avanço britânico, ele não se deveu à superioridade tecnológica e científica. Nas ciências naturais os franceses estavam seguramente à frente dos ingleses, vantagem que a Revolução Francesa veio acentuar de forma marcante(...)Até mesmo nas ciências sociais os britânicos ainda estavam muito longe daquela superioridade que fez (...)da economia um assunto eminentemente anglo-saxão; mas a revolução industrial colocou-os em um inquestionável primeiro lugar(...) Os Frances produziram inventos mais originais (...) Os alemães possuíam instituições de treinamento técnico(...) que não tinham paralelo na Grã-Bretanha, e a Revolução Francesa criou um corpo único e impressionante, a Êcole Polytechnique. A educação inglesa era uma piada de mau gosto, embora suas deficiências fossem um tanto compensadas pelas duras escolas do interior e pelas universidades democráticas, turbulentas e austeras da Escócia calvinista(...). Oxford e Cambridge, as duas únicas universidades inglesas, eram intelectualmente nulas, como o eram também as sonolentas escolas públicas(...)Não havia qualquer sistema de educação primária antes que o quaker Lancaster(...)lançasse uma espécie de alfabetização em massa(...)incidentalmente selando para sempre a educação inglesa com controvérsias sectárias. [p.62-61]
Contudo as condições adequadas estavam visivelmente presentes na Grã-Bretanha, onde mais de um século se passara desde que o primeiro rei tinha sido formalmente julgado e executado pelo povo e desde que o lucro privado e o desenvolvimento econômico tinham sido aceitos como os supremos objetivos da política governamental. A solução britânica do problema agrário (...) já tinha sido encontrada na prática(...) Um considerável volume de capital social elevado (...) já estava sendo criado(...) A política já estava engatada ao lucro. (...) os proprietários rurais haviam de erguer uma última barreira para impedir o avanço da mentalidade industrial entre 1795 e 1846. No geral, todavia, o dinheiro não só falava como governava. Tudo que os industriais precisavam para serem aceitos entre os governantes da sociedade era bastante dinheiro. [p.63-64]
Além disso, as revoluções industriais pioneiras ocorreram em uma situação histórica especial, em que o crescimento econômico surge de um acúmulo de decisões de incontáveis empresários e investidores particulares, cada um deles governado pelo primeiro mandamento da época, comprar no mercado mais barato e vender no mais caro. [p.65]
Estas considerações se aplicam em certos aspectos a todos os países nessa época. (...) em todos eles a dianteira no crescimento industrial foi tomada por fabricantes de mercadorias de consumo de massa (...)porque o mercado para tais mercadorias já existia e os homens de negócios podiam ver claramente suas possibilidades de expansão. (...) entretanto, eles se aplicam somente à Grã-Bretanha, pois os industriais pioneiros enfrentaram os problemas mais difíceis. Uma vez iniciada a industrialização na Grã-Bretanha, outros países podiam começar a gozar dos benefícios da rápida expansão econômica que a revolução industrial pioneira estimulava.(...)Grã-Bretanha possuía uma indústria admiravelmente ajustada à revolução industrial pioneira sob condições capitalistas e uma conjuntura econômica que permitia que se lançasse à indústria algodoeira e à expansão colonial. [p.66]
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A indústria algodoeira britânica, como todas as outras indústrias algodoeiras, tinha originalmente se desenvolvido como um subproduto do comércio ultramarino(...)Inicialmente eles não foram muito bem sucedidos, embora melhor capacitados a reproduzir competitivamente as mercadorias grosseiras e baratas do que as finas e elaboradas. Felizmente, entretanto, o velho e poderoso interesse estabelecido do comércio lanífero periodicamente assegurava proibições de importação de chitas indianas(...)dando assim uma chance aos substitutos da indústria algodoeira nativa. [p.67]
No século XVIII ela se desenvolvera perto dos maiores portos coloniais: Bristol, Glasgow e, especialmente, Liver-pool, o grande centro do comércio de escravos. Cada fase deste comércio desumano, mas sempre em rápida expansão, a estimulava. De fato, durante todo o período de que trata este livro, a escravidão e o algodão marcharam juntos. Os escravos africanos eram comprados, pelo menos em parte, com produtos de algodão indianos, mas, quando o fornecimento destas mercadorias era interrompido pela guerra ou uma revolta na índia ou arredores, entrava em jogo a região de Lancashire. As plantações das índias Ocidentais, onde os escravos eram arrebanhados, forneciam o grosso do algodão para a indústria britânica, e em troca os plantadores compravam tecidos de algodão de Manches-ter em apreciáveis quantidades[p.67-68]
Como já vimos, supondo que qualquer uma das economias adiantadas conseguisse, por um período suficientemente longo, monopolizar todos ou quase todos os seus setores, então suas perspectivas seriam realmente ilimitadas. Foi precisamente o que conseguiu a indústria algodoeira britânica, ajudada pelo agressivo apoio do governo nacional. Em termos de vendas, a revolução industrial pode ser descrita, com a exceção dos primeiros anos da década de 1780, como a vitória do mercado exportador sobre o doméstico(...) [p.68-69]
Contudo a indústria do algodão tinha outras vantagens. Toda a sua matéria-prima vinha do exterior, e seu suprimento podia, portanto ser expandido pelos drásticos métodos que se ofereciam aos brancos nas colónias (...) De novo, em pontos cruciais da indústria (...) o algodão sofreu uma escassez de mão-de-obra eficiente e barata, e foi portanto levado à mecanização. Uma indústria como a do linho, que inicialmente tinha chances bem melhores de expansão colonial do que o algodão, passou a sofrer com o correr do tempo da própria facilidade com que a produção não mecanizada e barata podia ser expandida nas empobrecidas regiões camponesas(...)onde basicamente havia florescido.(...)De fato, tanto na Grã-Bretanha como no resto do mundo economicamente progressista, o grosso da expansão no período inicial da industrialização continuou a ser deste tipo.(...)Em toda parte a tecelagem foi mecanizada uma geração após a fiação, e em toda parte, incidentalmente, os teares manuais foram morrendo vagarosamente, ocasionalmente se rebelando contra seu terrível destino, quando a indústria não mais necessitava deles. [p.70-72]
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A perspectiva tradicional que viu (...) a revolução industrial britânica (...) em termos de algodão é portanto correta. A primeira indústria a se revolucionar foi a do algodão, e é difícil perceber que outra indústria poderia ter empurrado um grande número de empresários particulares rumo à revolução. (...)A produção fabril em outros ramos têxteis teve desenvolvimento lento antes da década de 1840, e em outras manufaturas seu desenvolvimento foi desprezível. [p.72-73]
Os produtos de algodão constituíam entre 40 e 50% do valor anual declarado de iodas as exportações britânicas entre 1816 e 1848. Se o algodão florescia,
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