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O professor de História e o livro didático no ensino fundamental.


Enviado por   •  1 de Abril de 2016  •  Ensayos  •  1.724 Palabras (7 Páginas)  •  235 Visitas

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE JANEIRO -  FFP
História Antiga do Oriente | Prof.ª Lolita Guimarães Guerra
Aluno: Matheus de Oliveira Vieira
21 de julho de 2015

O professor de História e o livro didático no ensino fundamental
Reflexões a partir da etnia egípcia no livro “Nova História Crítica”

O ensino fundamental é o momento ideal para o professor trabalhar a personalidade crítica e a capacidade de análise e compreensão histórica dos alunos, visto que estes possuem a vantagem de ter mais tempo para aprofundar as discussões em sala de aula. Livres da maratona mecânica da preparação para o vestibular, podem experimentar o conhecimento pelo sabor da curiosidade e da discussão.[1] Apesar do quadro aparentemente favorável, há uma crença arraigada na mentalidade dos profissionais de educação de que o aluno do ensino fundamental ainda não tem capacidade para ser exposto à uma análise mais crítica e, menos ainda, à discussão historiográfica. Este menosprezo da capacidade do aluno e a preocupação em “passar todo o conteúdo” propiciam uma inversão na relação de ensino: o livro didático faz o papel do professor, ao conduzir a aula; e o professor faz o papel do livro didático, servindo para consulta. Torna-se necessária a reflexão: se é difícil supor que um aluno de quinta série tem capacidade para discutir historiografia, é impossível pretender que ele decore todas as informações presentes nas páginas dos livros didáticos. O desinteresse do aluno é notável na medida em que a história parece aos seus olhos um conjunto de acontecimentos de um passado distante. Configuram-se então dois problemas: a supervalorização do livro didático, com suas “verdades concretas” que anulam a chance do aluno desenvolver uma análise e um discurso próprios; e a completa ruptura do passado com o presente que a prática equivocada da docência provoca.

Não é a pretensão deste trabalho, discutir a escolha das obras que farão parte do Programa Nacional do Livro Didático, os Parâmetros Curriculares Nacionais, a crise da educação no Brasil, ou qualquer outra problemática externa à sala de aula. Será discutida a relação entre professor, aluno e livro didático. Em outras palavras, como o professor pode trabalhar com o que tem em mãos para dar uma aula interessante e crítica. As reflexões serão feitas a partir de um estudo de caso: a abordagem da etnia egípcia no livro “Nova História Crítica”, de Mário Furley Schmidt.

A coleção “Nova História Crítica”, publicada pela editora Nova Geração, foi aprovada pelo Programa Nacional do Livro Didático e distribuída para mais de 50 mil escolas de todo o país entre 1999 e 2007.[2] Os livros têm uma linguagem informal que busca alcançar o público adolescente, muitas ilustrações e nenhuma preocupação em discutir a relação entre as civilizações e culturas. No capítulo 5 do primeiro volume, “O Egito Antigo”, o autor aborda a questão das etnias com ênfase:

Talvez você e seus colegas já tenham feito essa pergunta: será que os povos negros da África nunca formaram uma grande civilização? Uma civilização admirada por todo o mundo? Pois bem, aí vai uma informação preciosa, amigo leitor: os antigos egípcios eram africanos! Isso mesmo, eles nada tinham do tipo físico europeu. A extraordinária civilização egípcia, tão admirada no passado e nos tempos atuais foi construída pela inteligência, criatividade e trabalho duro de milhões de pessoas de pele escura. [3]

Nota-se que a temática das etnias é uma preocupação central para o autor na discussão do Egito Antigo, visto que esse trecho abre o capítulo e que a mesma temática o encerrará. O professor certamente cairá nos mesmos equívocos do autor se não fizer um estudo prévio da obra e do tema, mas para o professor preparado e preocupado em proporcionar boas reflexões históricas, o trecho oferece equívocos suficientes para sustentar uma aula inteira de discussões.

Em primeiro lugar, o trecho sugere que o Egito foi a única grande civilização da África Antiga, o que demonstra no mínimo um descuido do autor, visto que no mesmo ano de publicação da obra, foi sancionada a lei 10.639, que torna obrigatória a inclusão de História da África em todos os currículos escolares nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio.[4] O professor pode, neste caso, enumerar e apresentar outras nações africanas e explicar brevemente, para não fugir do tema central da aula, porque o estudo de outras civilizações africanas começou a avançar tardiamente em relação aos do Egito. O professor também pode fazer uma reflexão acerca da utilização da expressão “grande civilização”. Por que se pode chamar o Egito Antigo de grande civilização? São boas questões para a sala de aula.

O segundo ponto a ser analisado versa sobre a etnia dos egípcios. O autor se apega à afirmação de que a civilização egípcia é negra, sem exceções. Aproxima-se do pan-africanismo de Cheikh Anta Diop, embora não faça referência, e não leva em consideração as rupturas, descontinuidades e interações com outros povos e culturas na história do Egito Antigo. Mais uma vez pode-se constatar a desatualização nos debates historiográficos por parte do autor. Dezessete anos antes da publicação da primeira edição da coleção “Nova História Crítica”, Ciro Flamarion tratava a questão das etnias com mais responsabilidade e propriedade:

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